Constatamos que está a engrossar a separação dos mais ricos e dos mais pobres. O “status" sócio-económico da classe média alta e baixa, outrora intercalada entre o endinheirado e o empobrecido, praticamente está sepultado. Por outras palavras, existem apenas dois estratos sociais: os abastados e os que vivem todos os dias com dificuldades financeiras e desesperados para as colmatar.
Não se pretende acabar com os ricos, pois eles são úteis devido à sua capacidade do investimento empresarial, pilar elementar no desenvolvimento e crescimento das economias de qualquer país.
O que parece ser obsceno é a ostentação das fortunas. Há pessoas ricas totalmente despreocupadas com as condições sub-humanas de quem vive abaixo do limiar da pobreza.
Segundo um relatório da OCDE, Portugal é um dos Estados-membros da UE que menor mobilidade social tem. Pressupõe-se que existam mais de dois milhões de pobres que não chegam a auferir sete mil euros por ano, ao contrário do outro extremo, em que centenas de milhares de pessoas chegam a ter rendimentos na ordem dos 350 a 700 mil euros anuais. Considerava-se classe média os cidadãos que conseguissem ter 20 mil euros de rendimentos do trabalho por ano.
Obviamente, com a classe média “amolgada” e substituída pela classe pobre, são os consumidores de parcos recursos remunerativos que suportam a vida ativa das pequenas, médias e grandes empresas, que financiam os serviços do Estado através dos impostos sobre o rendimento do trabalho e que, na sua maioria, não conseguem fazer qualquer “pé de meia”.
Prevê-se que, em Portugal, 10% da população detenha 58,3% da riqueza nacional, embora essa tendência tenha vindo a ser amortecida devido aos graves problemas da economia internacional.
O fulgor económico permitiu que a China tenha aproximadamente um milhão de pessoas muitíssimo bem-sucedidas na área empresarial, contrapondo-se essa realidade às condições sub-humanas de trabalho dos empregados.
Prosperar é um desejo de qualquer ser humano. Não é um privilégio ter na sua posse uma pequena dose de dinheiro que proporcione uma vida tranquila, confortável e digna.
É inconcebível a desigualdade económica entre os dois grupos socialmente mais distanciados, entre os multimilionários apáticos em relação à partilha mais justa de recursos e os que vivem na miséria. Esperemos que o mundo mais rico olhe com generosidade para as necessidades básicas de um mundo cada vez mais pobre e socialmente sofredor.
Autor: Albino Gonçalves