Agosto esgotou os seus dias. Setembro avança inexoravelmente e, com ele, o novo ano académico e laboral vai dar os seus primeiros passos. E desejamos que corra melhor a todos nós, apesar de sabermos que nem tudo se encontre nos carris mais adequados.
Um dos factores negativos é o índice baixo de natalidade em Portugal. Na base da pirâmide populacional, verifica-se um número muito diminuto de nascimentos. As famílias são pouco produtivas em matéria de filhos. Mais: quando um casal é generoso e amplia a sua prole, surge socialmente não só com uma excepção, mas como um caso sui generis que quase toca as margens do foro psiquiátrico.
Para este panorama contribui também a falta de unidade dos ambientes familiares, que dá origem à percentagem tremenda de divórcios, aos casamentos que nascem; à partida, como uma experiência dúbia de continuidade e fidelidade, às uniões de facto que esperam por momentos mais propícios para procriar, etc.
No topo da mesma pirâmide, o engrossamento é progressivo. Não só porque as reformas atingem muitos cidadãos que, até há alguns anos, não conheciam esta recompensa tão justa para o seu esforço laboral ao longo de muito tempo, mas também porque a longevidade aumenta com os progressos da medicina e da assistência social.
Assim, há cada vez mais idosos e, proporcionalmente, cada vez menos crianças. É triste, por exemplo, ver nas nossas aldeias, nomeadamente do interior pouco habitado, antigas escolas primárias abandonadas e em ruínas, ou, na melhor das hipóteses, transformadas num centro de qualquer actividade promovida pela junta de freguesia local.
Outro aspecto menos positivo é a qualidade de ensino que se ministra nas nossas escolas públicas. Que todo o cidadão tenha direito a cultivar-se e a aprender o que necessita de cultura para poder ser um profissional competente na sociedade de que faz parte, ninguém põe em dúvida.
Mas que só o estado, através do ensino público, possa conceder essa educação com justiça e competência, eis o que convida a um monopólio cultural, muito estimado pelos sistemas ditatoriais da actualidade e do século passado, como o fascismo, o comunismo e, entre nós, o chamado “Estado Novo”.
Esta tendência, contudo, não morreu entre nós: agora, sintomaticamente, com as actuais directrizes do ministério respectivo, parece que se olha para as iniciativas privadas no mundo educativo com uma desconfiança patológica, a fim de que, se lhe é possível, as comprimir, as debilitar e, enfim, as substituir logo que for oportuno.
Falar com alguns professores do nosso ensino público sobre o que lhes compete ministrar e sobre os alunos que lhes cabem em sorte, sobre o interesse que eles demonstram, sobre as classificações que estão “obrigados” a dar, sobre a disciplina que leva alguns docentes a tratamentos psicológicos de urgência, etc., deixa-nos uma impressão de dor e de comiseração.
Com certeza que nem todo o ensino público se pauta por estas circunstâncias tão duras. O que chama a atenção é que quem manda queira afogar a iniciativa privada, considerando-a supérflua e apenas destinada às elites privilegiadas.
Não considera a sua qualidade nem a forma como se abre a ensinar quem é mais carente de meios económicos, através de bolsas e outras soluções que engendra, incluindo acordos com o próprio estado.
Falar com alguns professores do ensino privado, que vêem com apreensão que a sua escola tenha sido obrigada a encerrar turmas e a despedir colegas por deixar de ser apoiada pelo estado, que entretanto invade aquele ambiente com um estabelecimento próprio de duvidosa eficiência e que sai bem mais caro aos bolsos dos cidadãos, é um espectáculo inquietante e lúgubre.
Segundo consta, há membros do nosso governo, entre os responsáveis executores por esta tendência monopolista do estado como principal e quase exclusivo educador competente e universal, que mantêm os seus descendentes em estabelecimentos do ensino particular. Lá saberão porquê.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva