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Rapa, tira, deixa, põe

E o mais absurdo e caricato da situação é muitos pensionistas a quem o Governo deu um aumento, anunciado com grande pompa e circunstância, ficam, ato contínuo, sem o respetivo aumento e, pior ainda, com a pensão reduzida; e, como nos tempos de criança, quando algum de nós dava e, a seguir, tirava fosse o que fosse a um companheiro, ele gritava quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar, estes portugueses acabam por soltar o mesmo desabafo ou um feio palavrão.

Pois bem, a atitude do Governo prende-se com a engenhosa engenharia financeira de, deixando de pagar a totalidade do 13.° mês (subsídio de Natal) em duodécimos, passar a pagá-lo em duas fatias: metade em duodécimos e a outra metade em novembro; e esta manobra não é mais do que uma marosca que faz com que o executivo disponha de mais dinheiro mensalmente e baixe assim, embora artificialmente, a dívida pública e, por tabela, o défice.

Todavia, esta prática do dá e torna a tirar vem sendo habitual, governo a governo, e nos faz lembrar o jogo do rapa, tira, deixa e põe das nossas brincadeiras de infância, sem que o povo vislumbre uma razão plausível para tal jogada; mas, para quem obrigatoriamente tem contas a pagar e compromissos assumidos, esta prática governativa transforma-se num imenso pesadelo, mormente quando o custo de vida não deixa de aumentar, basta vermos o que acontece com os combustíveis.

Ora, o lógico, desejável e patriótico seria, pelo menos entre os dois maiores partidos que sustentam o arco da governação desde o 25 de Abril, a formulação de um acordo de regime que salvaguardasse o essencial e básico, mormente nas áreas da Saúde, Educação, Segurança Social e Justiça; mas não, as medidas e reformas estruturais que os governos de um partido tomam durante a sua governação, mesmo que necessárias e fundamentais para o país, logo são anuladas ou modificadas, quando outro partido assume o poder, quase sempre obedecendo a critérios políticos ou ideológicos.

E, assim, o país não tem nunca uma linha de rumo certa, nem uma política congruente e construtiva e o povo nunca sabe onde o levam, andando no meio de tudo isto como uma barata tonta, como nos casos do fecha tribunais e repartições de finanças e abre tribunais e repartições de finanças, decretam-se exames e provas de avaliação nacionais para a seguir novamente se extinguirem, extinguem-se feriados e repõem-se feriados, ou privatizam-se empresas públicas para, depois, se voltar a nacionalizá-las, tal qual como num jogo do faz e desfaz, do constrói e destrói, do rapa, tira, deixa e põe, que mais não é do que um braço de ferro entre partidos que pensam mais nos seus próprios interesses e dos grupos que os apoiam do que nos do povo que os sustenta.

E que é o que bem explícito está na questão em análise: o governo de Passos Coelho (PSD/CDS) passou a pagar o subsídio de Natal em duodécimos e vem agora o Governo do PS, apoiado parlamentarmente pelo BE e pelo PCP desfazer o que foi feito, com prejuízo evidente para os cidadãos abrangidos pela medida que no fim de cada mês vê assim reduzido o seu salário, reforma ou pensão; mais valia fazer como nas empresas privadas, dando aos trabalhadores e pensionistas a possibilidade de optarem entre duodécimos mensais ou metade dos duodécimos cada mês e o restante em novembro.

E, perante esta coboiada e pouca vergonha, o BE e o PCP, orgulhosos apoiantes do Governo, e que se afirmam grandes defensores do povo e das conquistas de Abril não têm nada a dizer ou a obstar? Pois é, pois é, primeiro eu, depois eu, e sempre eu.

É assim ou não é? Claro que é.
Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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18 janeiro 2017