Tem-se falado muito, e com razão, de que há turbulência nos partidos do centro direita. Mas o conflito mais ou menos aceso não se fica por esta parte do espectro partidário. No maior partido da actualidade, a paz não é assim tão constante e regular como pode parecer. Em alguns fóruns socialistas, diz-se, o descontentamento é de tal ordem que se deseja que o partido passe um tempo de cura na oposição. Que António Costa não será tão agregador como parece, chegando a ser fonte de discórdia e motivo desta vontade de alguns correligionários para que deixe de governar. E que para a maioria dos militantes até pode continuar a ser o preferido para os liderar e liderar a administração do país, mas há franjas que gostariam de o ver já na Europa, embora a sua censura seja à porta fechada, como costuma acontecer num partido que tem responsabilidades governativas. O momento poderia ser da oposição.
Não está a ser. Na oposição, pelo menos entre os partidos que, de tempos em tempos, alternam no governo do país, não se tratam assim os assuntos relacionados com as lideranças. A discussão tem sido feita em sinal aberto, às claras, à vista tanto de militantes, como de potenciais eleitores. E não tem sido bonito de se ver o espectáculo, por mais que alguns digam que isso é sinal de vitalidade democrática. Tem é mostrado o quanto se é capaz representar para se chegar à liderança de um partido. No maior partido da oposição a luta está ao rubro e talvez vá continuar até ao fim de semana.
Os sociais democratas têm já menos de uma semana para reflectirem sobre que líder querem e para garantirem de que vão escolher a pessoa certa para medir forças com Costa e eventualmente para concertar com ele posições no caso, aliás, muito provável, de não haver maioria absoluta de qualquer das forças partidárias. A acontecer assim, tanto Costa como o novo líder do PSD precisarão um do outro, dependendo das respectivas posições depois do dia das Legislativas, se como primeiro-ministro, se como líder da oposição.
Quanto à possibilidade dos sociais democratas ganharem as eleições, ela é potenciada se for Rui Rio o vencedor do escrutínio interno do próximo sábado, a atender às sondagens entretanto realizadas que evidenciam ser ele o favorito dos portugueses para liderar o segundo maior partido. No entanto, se forem os socialistas os vencedores, a estabilidade governativa também estaria assegurada por Rio que já confirmou a sua disponibilidade para tal. No caso de ser Paulo Rangel a vencer as directas do partido laranja, a situação será menos favorável não apenas para o Partido Social Democrata, como para o país. Em primeiro lugar, porque os portugueses tenderão a votar menos num líder da oposição que não conhecem suficientemente bem, logo, será menos provável que o PSD ganhe as legislativas. As pessoas têm votado cada vez menos num determinado partido e muito mais na pessoa que o lidera. E com Rangel na oposição, a estabilidade do país estaria mais em causa, atendendo a que aquele já afirmou que com ele na liderança do PSD não haverá entendimentos com Costa. Não parece, por isso, que com Rangel ao leme do PSD, este venha a ser uma real alternativa ao Partido Socialista.
Uma vez que um partido não deve ser um clube e atento o interesse nacional, os militantes sociais democratas têm a obrigação de uma reflexão mais aturada e profunda até ao acto eleitoral. Os cidadãos que acompanham o que se está a passar no PSD estão expectantes quanto ao resultado das próximas eleições internas. Assim os militantes tenham disso noção para se não deixarem envolver por eventuais pressões para votarem de acordo com a indicação da sua secção ou da sua distrital. O resultado vai depender da força da máquina partidária em relação à militância. Se a primeira vencer, poderá significar que os militantes são pouco livres e clubistas. A verdade é que os partidos não existem para servir de trampolim para alguns correligionários, mas para escutar o povo e fomentar políticas que satisfaçam as necessidades deste.
Autor: Luís Martins