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Quem és tu Zé Gato? Orlando Costa&Rogério Ceitil

Partiu o actor Bracarense Orlando de Jesus Machado da Costa (24/12/48-19/8/22, por coincidência, 19/8 é a data em que termina a série Zé Gato e a data de nascimento do meu falecido Pai, actor e encenador de teatro, embora amador, natural de Lisboa, mas radicado em Braga e que me falava no Orlando). Condolências à família e amigos. Orlando Costa formou-se na Escola de Teatro do Conservatório Nacional em 1971, fazendo a sua estreia no Teatro Experimental de Cascais, director Carlos Avilez. Foi cofundador, com Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, do Teatro da Cornucópia. Trabalhou com artistas conhecidos como Rui Mendes, Fernanda Lapa, Maria do Céu Guerra, Hélder Costa, João Lourenço, Jorge Listopad, Glicínia Quartin, André Gago, Irene Papas, Leonel Vieira, Eduardo Geada, Luís Filipe Rocha, Monique Rutler, João Canijo, Margarida Gil, Tiago Guedes, Frederico Serra, Teresa Garcia, Teresa Villaverde, Márcia Breia, Carlos César, Manuel Cavaco, Jacinto Ramos, Bandeira-Freire, António Feio, Luís Alberto, etc.. Entrou em produções como Contos Mágicos, Mala de Cartão, Morgadinha dos Canaviais, Desencontros, Polícias, Ballet Rose, Fura-Vidas, Capitão Roby, Olhos de Água, João Semana, Quando os Lobos Uivam, Malucos do Riso, Coisa Ruim, A Filha de Solveig Nordlung, Dupla Viagem, O Anjo da Guarda, Sapatos Pretos, Três Irmãos, Amor e Dedinhos de Pé, Jogo de Mão, Santa Aliança. Assisti a alguns destes trabalhos e outros nem tanto. Mas houve uma série que apesar de criança assistia com toda a atenção, ajudou a formar a minha consciência e cuja música ainda hoje me causa arrepios: Zé Gato (6/12/79-19/8/80) de Rogério Ceitil (V. F. de Xira: 13/3/37, 85 anos), de também Duarte&Compª. “Zé Gato” por Jorge Palma - Pedro Brito/Tózé Brito: “A cidade é pra fazer dinheiro / Vê-se que leva um tempo inteiro / Vais passar um mau bocado § Vais ver o que busca, não ser ouvido / No meio de tanto homem vendido / Em silêncio comprado § Quem és tu, Zé Gato? / O que é que te faz perder / Pelos cantos mais sujos desta terra § Tu já deves saber / Que mesmo quando vences batalhas / Estás longe de acabar com a guerra § Quem és tu, Zé Gato? § Mas tu és teimoso como um burro / Vai na luva ou vem a mudo / Nada te faz desistir § A luta é de vida ou de morte / Mas a consciência é mais forte / E não te deixa fugir § Quem és tu, Zé Gato? / O que é que te faz perder / Pelos cantos mais sujos desta terra § Tu já deves saber / Que mesmo quando vences batalhas / Estás longe de acabar com a guerra § Quem és tu, Zé Gato? § És mais um caso de solidão / Porque afinal poucos são / Os que se entendem contigo § E às vezes é num marginal / Que vais encontrar, encontrar a mal / Compreensão de amigo § Quem és tu, Zé Gato? / O que é que te faz perder / Pelos cantos mais sujos desta terra § Tu já deves saber / Que mesmo quando vences batalhas / Estás longe de acabar com a guerra § Quem és tu, Zé Gato?”. Histórias realistas com baixo orçamento, mas credíveis. Pedra de toque para a nova RTP2. Depois da Revolução de Abril, liberdade sem responsabilidade traz também corrupção, crime organizado, negócios escuros, tráfico de droga, mais assassinos. Zé Gato é um agente da polícia que, cínico e irónico, conhece bem este submundo. É corajoso, honesto e tem métodos pessoais de resolver os problemas. Se necessário, adequado e proporcional batia nos criminosos. O seu chefe era o célebre actor português António Assunção. O Inspector Duarte, austero e exigente sempre com duas pedras na mão. Tinha, todavia, admiração escondida por Zé Gato. O superior de Duarte era o Comissário actor Baptista Fernandes. Zé Gato tinha um criminoso como informador e seu melhor amigo, o “Matrículas”, Luís Lello. Matrículas arriscava por vezes a sua vida e tinha profundo respeito por Zé Gato e Duarte. Zé Gato tinha uma espécie de orientador e confessor, um agente reformado da Polícia, o “Mestre”, actor Canto e Castro. Zé Gato, herói anti-corrupção – e seus criadores -, mereciam homenagem e continuidade como o 007 ou Missão Impossível e provavelmente teriam, num outro país, um país melhor do que este Portugal…


Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira
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2 setembro 2022