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Que terá acontecido à boa educação das pessoas para ela estar tão adormecida?

Hoje, mais do que nunca, as relações entre as pessoas estão a passar por um período muito tenso, carregado de maus humores, de ira constante ou de uma plêiade de indignações de toda a espécie. Parece que as pessoas já não sabem senão ironizar, resmungar, resmonear, ranguinhar, insultar e tirar desforço por ninharias ou até sem qualquer pretexto. As pessoas sabem que têm que viver em sociedade, como o exige a própria natureza humana, mas parece que já o não sabem fazer de um modo ordeiro, harmonioso e de respeito mútuo.

As boas maneiras deixaram de ser dominantes nas sociedades modernas. Tudo é exigido, tudo é reclamado aos outros. As pessoas só veem direitos que proclamam, mesmo que para tal nada tenham contribuído, nem que seja com um pequeno esforço ou gesto de sensatez. Os filhos não respeitam os pais; os pais abdicam de educar os filhos.

Toda a gente se isola no seu canto, evitando, ao máximo, os ambientes de diálogo e de convivência familiar. Convívios, só se for em diversões noturnas ou em eventos de natureza muito duvidosa. Depois as consequências de tudo isso são desastrosas como os Meios de Comunicação Social divulgam diariamente até à exaustão.

O uso desviante ou mórbido de conteúdos nas redes sociais (e que é de fácil acesso a qualquer um) preenche a maior parte do tempo disponível na maioria das pessoas. Daí advêm, com frequência, os encontros fortuitos de pessoas ingénuas ou bem intencionadas com indivíduos sem escrúpulos que uma educação indevida assim formatou.

A deontologia profissional é “chão que já deu uvas”, parecendo que até secou por completo. Os superiores hierárquicos não são respeitados pelos seus súbditos; por seu turno, os súbditos não são considerados pelos chefes como pessoas senhoras de uma dignidade humana igual à de todos os outros, qualquer que seja o cargo desempenhado.

Na Assembleia Nacional, fonte legal donde jorra a base de normativos que regulam as relações humanas, abundam diariamente chorrilhos de intervenções nada educativas.

Pelo contrário, o diálogo oficial entre os nossos representantes é profundamente carecido de urbanidade, sempre cheio de insultos ou de uma linguagem gravemente ofensiva para quem os elegeu. Que vergonha! Que desaforo! Que ousadia! Que deselegância e que insolência! De facto, apenas conta o voto e as vãs promessas.

É prioritário alcançar o poder porque dá proventos chorudos. Esquecem rapidamente que a sua função deve ser eminentemente educativa. Não pensam que uma parte daquilo que somos vem do exemplo dos outros e, de um modo especial, dos administradores dos bens das comunidades e das nações.

Aquilo que eles são e aquilo que nos querem impingir vai entrando nas mentes de muitas pessoas. Nós nascemos para conviver sadiamente com os outros, convictos que os grandes responsáveis pelos povos nos defenderão a nós e aos nossos direitos. Ó vã esperança! Devemos refletir que somos nós que erguemos as sociedades, mais ou menos organizadas, em que as relações entre as pessoas e as classes sociais são determinantes para o bem-estar comum.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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31 janeiro 2019