Discutir o modelo de sociedade em que se deseja viver, nunca foi assunto da atual campanha eleitoral. Isto mesmo: os partidos devem perguntar aos portugueses em que sociedade desejam viver. Uma sociedade socialista, uma sociedade comunista, ou uma sociedade social- democrata, uma sociedade democrática ou ditatorial? Isto é de partido; agora estarem a dirimir forças e palavras para ver quem dá mais, é, voltamos a dizê-lo do foro sindical. Se os partidos não querem, não sabem, ou se sabem, escondem do eleitorado a sociedade que desejam estabelecer, então há aqui um tremendo dolo que teremos de esclarecer e desfazer. É uma situação dolosa porque é crime premeditado. Dar mais salário, mais férias, melhores reformas, mais progressão na carreira, mais dignificação a determinadas carreiras públicas, é um discurso secundário porque são consequências e não causas; isso decorre com toda a naturalidade dessa sociedade que os partidos devem querer formar. Mas não é isso que se tem visto. Não interessa saber se queremos viver no marxismo, no capitalismo ou numa social-democracia? Então já não sei o que profundamente interessa aos portugueses. Decorridos que vão mais de quarenta anos de democracia, ainda não distinguem em que sociedade querem viver? Contentam-se com mais promessas, com futuros que nunca chegam, com mais ilusões, então continuamos a ter um voto de mealheiro. E se o voto é a arma do povo, bem pouco espingarda esta arma, uma vez que só tem uma mira e um único alvo: o buraco da fechadura. A democracia é rica precisamente pelos contraditórios; tem alvos móveis porque assim é o pensamento livre. Na hora de votarmos devemos pensar mais na sociedade em que queremos viver do que quem será o primeiro-ministro. Quem quer ser marxista vota esquerda, numa qualquer das variantes que temos atualmente ao dispor; quem quer ser da direita vota nos partidos que temos ai a oferecer-nos um regresso ao passado e uma perspetiva de fazer do dinheiro o senhor absoluto, em vez de fazer do sujeito o autor da sua vontade; quem quer viver numa sociedade onde o público e o provado se encontram numa economia concorrencial, temos alguns partidos que nos garantem uma coexistência entre público e privado, numa economia concorrencial. Exemplos: uma escola do estado e uma escola privada; um hospital público e um privado. No nosso campo político temos um leque bem alargado de escolha da sociedade em que queremos viver. A escolha depende daquilo que entende ser melhor para os seus fins pessoais; mas pense pela sua cabecinha, não se deixe cativar pelos slogans, nem pelos pósteres de personalidades em disputa política. Isto não passa de angariação. Volto a repetir: pense. O que interessa são as políticas que escolhemos, muito mais que os políticos que se apresentam. Outra coisa: Não se enganem, ninguém muda a sua ideologia com a mesma facilidade com se faz uma campanha eleitoral. Votar é um ato de responsabilidade e não uma romaria onde se vai de ânimo leve ao toque de tambores e foguetes. Vamos escolher uma sociedade e não uma personalidade.
Autor: Paulo Fafe