1. A pergunta, para uns desnecessária e para outros incómoda, não deixo de a fazer: que Natal estamos a preparar e que Natal desejamos celebrar?
Há o natal pagão e o Natal cristão. Compete-nos escolher.
O natal pagão é o da sociedade de consumo, das prendas caras, da lauta ceia, do exibicionismo, das brincadeiras, do pai natal com tudo o que lhe está associado.
O Natal cristão é a celebração do nascimento de Jesus, com todas as consequências que isso tem na vida de cada um de nós.
2. O Natal cristão também é festa. Festa de aniversário. Também é o natal das pendas, cuja importância não está no valor comercial mas no que significam de amor, de renúncia, de serviço e doação e ao outro.
Celebramos no Natal a grande prenda, que é essa de Jesus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. se ter feito um de nós e se nos dar.
Não custa nada, ou custa muito pouco, dar coisas aos outros. E darmo-nos? E disponibilizarmo-nos para servir os outros no que de nós precisam? E mudarmos de planos para lhes fazermos companhia, para os ajudarmos a resolver um problema com que se debatem, para deles ouvirmos pacientemente uma história muitas vezes repetida ou o rosário das suas lamentações?
Quando Maria foi visitar Isabel a prenda que levou foi a disponibilidade para servir(Lucas 1, 39-45).
Entre dar e dar-se vai um caminho que a celebração do Natal convida a percorrer.
3. O Natal cristão é a festa da fraternidade. A tomada de consciência de que temos um Pai comum e de que Jesus Cristo se fez nosso irmão para que O vejamos nos outros.
Foi notícia há dias a forma desumana como pessoas, abusando da autoridade, trataram imigrantes, agredindo em vez de proteger. Atos desses são a negação do verdadeiro espírito do Natal.
Celebrar o Natal é tomar consciência de que o outro é um irmão a quem devo respeitar e amar. É fazer ao outro, seja ele quem for, o que gostaria tivesse feito a mim. Não apenas em 25 de dezembro mas sempre.
4. Celebrar e viver o Natal é saber ir ao encontro do outro com humildade. Descer para ajudar a subir.
Deus veio ao encontro dos homens para que estes se encontrem com Ele e uns com os outros. Também com os que não oferecem prendas. Também com aqueles em relação aos quais alimentamos ressentimentos. Também com os que de qualquer forma nos ofenderam.
5. Natal é reconciliação.
A celebração cristã do Natal exige que se esteja em paz com Deus e com os outros. Que se saiba pedir perdão e perdoar. Que se ponha termo a inimizades, a amuos, a gestos de indiferença. Pode exigir a celebração do sacramento da Penitência. O alisar do caminho que conduz ao outro.
6. Natal é solidariedade. É ajuda mútua. É agir como quem tem consciência da dignidade dos outros que são tão seres humanos e filhos de Deus como nós.
Celebrar e viver o Natal é fazer tudo o que de nós depende para que os outros possam dispor dos meios necessários para poderem viver com dignidade. É contribuir para que não deixem de ter uma refeição decente não apenas uma vez por ano, mas sempre.
Celebrar e viver o Natal também é contribuir para que todas as pessoas válidas possam ter trabalho digno e dignamente remunerado. É fomentar uma sã camaradagem. É pôr termo ao escândalo dos sem-abrigo e proporcionar a todos uma habitação merecedora deste nome. É ajudar a pagar a renda de casa, as despesas de água e luz; a comprar medicamentos.
7. Há o natal pagão e o Natal cristão. O natal de um dia e o Natal de toda uma vida. O natal do folclore e o do serviço e doação aos outros. Para onde vai a minha escolha?
Autor: Silva Araújo
Que Natal?
DM
23 dezembro 2021