Aquilo que as televisões mostraram do Chega, reunido na V Convenção Nacional para a eleição do seu líder, André Ventura, foi de meter medo. A violência verbal com que alguns dos intervenientes exprimiram os seus pensamentos e intenções é de estarrecer; o apoio ao seu chefe é de uma roupagem a um caudilho e não de um presidente de partido. As palavras de apoio a Ventura ultrapassaram em muito um apoio político; situaram-se na lisonja e na preocupação precoce em se posicionar perante o líder para que dele se lembre quando houver beiçada. Na verdade, meteu repulsa tanta lambedela de botas. Como se isto não bastasse para ressuscitar fantasmas de ídolos de outras ditaduras que julgámos jazentes em sepulcro doutras eras, juntou-se a intervenção de alguns, bastantes, dos seus delegados, para nos dar imagem de ódio amordaçado pela democracia, que enforma uma ideologia de uma direita extrema. Isto foi reconhecido por André Ventura quando afirmou que, nestas ocasiões, há sempre quem se exceda em linguagem e afirmações. Fez bem em tentar deitar água fria na fervura mas essa mesma água que aparentemente se tentou tornar tépida, está a borbulhar para ferver quando as circunstâncias assim o permitirem. Tem esta extrema-direita de existir na nossa democracia? Se a extrema-esquerda existe, por que não a extrema-direita? Ambas vivem na democracia embora nenhuma delas seja democracia, ou então há aqui um equívoco ideológico que contraria a história das ditaduras espalhadas pelo mundo. Dizem que o PCP e o BE respeitam as regras da democracia. Respeitam-nas porque não a podem contrariar. O Chega é igual. Temos à porta da bondosa democracia dois inimigos figadais esperando, como atiradores furtivos, a melhor ocasião para matá-la. Compete a todos aqueles que amam a liberdade, que gostam de ser sujeito, que adoram ter voz sem o eco do poder estabelecido, que odeiam as prisões políticas, sejam elas no Tarrafal ou nos Gulags, nunca escolher na liberdade de votar nos partidos inimigos dessas liberdades porque elas fazem de cada um de nós um zero e não um indivíduo na plenitude da sua dignidade. Tive medo do que vi e ouvi, tenho receio do que são as ditaduras. Até há tempos eu não compreendia como havia pessoas que escolhiam partidos totalitários; talvez a justificação estará porque não sabem o que é ditadura. Nesta, tu não falas e, mesmo quando murmuras, é baixinho, não vá as paredes terem ouvidos e os amigos serem bufos do governo. Viver sem alma é estar vivo como se estivesse morto. Mas, pelo que se viu, há gente desta. Só assim se compreende que se apoie aqueles que me roubam a liberdade de ser como quero. Mesmo na escravatura sempre houve escravos que eram pelos senhores. Às vezes em troca duma côdea maior. A sociedade portuguesa é moderada, ama a democracia sem carros incendiados, montras partidas, caça às bruxas nem predomínios individuais que causem mau estar social. Nesta paz viva e sempre atenta não quererá escolher quem a queira levar para os extremos onde moram intenções pouco dignas da personalidade do indivíduo. A democracia não tem máscara onde se esconda mas deve estar atenta aqueles que, tendo-a, representam farsa da liberdade, direitos e deveres dos cidadãos.
Autor: Paulo Fafe
Que convenção nacional!

DM
6 fevereiro 2023