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Que bela homilia de Natal, Papa Francisco!

Baseado nos textos litúrgicos proclamados: Isaías, Tito e Lucas, o Papa Francisco brindou-nos com uma reflexão sobre o sentido e o significado do Natal que não gostaríamos que ficasse apenas nos arquivos dos media vaticanos e poucos mais. Partindo da frase de Isaías 9, 1: «Sobre os que habitavam nas trevas brilhou uma luz», que vê realizada na narrativa evangélica que refere que, enquanto os pastores vigiavam na noite os seus rebanhos, «a glória do Senhor envolveu-os de luz», acrescenta que Paulo sugere que esta luz que apareceu a iluminar a escuridão é a 'graça de Deus'. É ela que traz a salvação a todos os homens. E o raciocínio continua: «Esta graça é o amor divino, o amor que transforma a vida, renova a história, liberta do mal, infunde paz e alegria. E este amor mostrou-se a nós em Jesus. Nele, o Altíssimo fez-se pequenino para ser amado por nós. Em Jesus, Deus fez-se Menino para se deixar abraçar por nós. Mas por que é que São Paulo chama a esta vinda ao mundo de Deus “graça”? Para nos dizer que é completamente gratuita... O seu amor não é negociável: nós não fizemos nada para o merecer e jamais poderemos recompensá-lo». O Natal recorda-nos que Deus continua a amar cada ser humano, mesmo o pior de todos. «A mim, a ti, a cada um de nós diz hoje: 'Amo-te e amar-te-ei sempre; tu és precioso aos meus olhos'. Deus não te ama porque pensas correctamente e te comportas bem. Ama-te e basta! O seu amor é incondicional; não depende de ti. Podes ter ideias erradas, podes ter feito mil e uma coisas, mas o Senhor nunca deixa de te querer bem. É errado pensar que Deus é bom connosco se nos portamos bem, e que nos castiga se somos maus. Nos nossos pecados, continua a amar-nos. O seu amor não muda, não é melindroso. É fiel, paciente. É isto que descobrimos no Natal: o Senhor é toda a gratuidade possível, toda a ternura possível. Nasce pobre de tudo para nos conquistar com a riqueza do seu amor». Graça é sinónimo de beleza. E na beleza do amor de Deus descobrimos também a nossa beleza, porque somos 'os amados de Deus'. No bem e no mal, na saúde e na doença, felizes ou tristes, aparecemos sempre belos diante dos seus olhos: não por aquilo que fazemos, mas por aquilo que somos. Existe em nós uma beleza indelével, intangível, uma beleza insuprimível que é o núcleo do nosso ser. Hoje, Deus recorda-nos isso mesmo, assumindo com amor a nossa humanidade e fazendo-a sua, “desposando-a” para sempre. Como aos pastores, também nos diz a nós para não termos medo, porque apareceu uma nova esperança. Diante desta graça, só nos resta acolher o dom. Antes de procurarmos nós Deus, deixemo-nos procurar por Ele que nos procura sempre primeiro. Ponhamos o nosso olhar no Menino e deixemo-nos envolver pela sua ternura. Não teremos escusas para nos deixarmos amar por Ele… Porque perante o amor louco de Jesus, um amor todo feito de mansidão e proximidade, não há escusas. A questão, no Natal é: «Deixo-me amar por Deus? Abandono-me ao seu amor que vem salvar-me?» Acolher esta graça é saber agradecer. Hoje é o dia próprio para nos aproximarmos do tabernáculo, do presépio, da manjedoura, para dizer “obrigado”. “Acolhamos o dom que é Jesus, para depois nos tornarmos dom, como Jesus. Tornar-se dom é dar sentido à vida. E é a melhor maneira de mudar o mundo: nós mudamos, a Igreja muda, a história muda, não quando começamos a querer mudar os outros, mas a nós próprios, fazendo da nossa vida um dom». Não esperemos que os outros se tornem excepcionais para lhes fazermos bem; não esperemos que a Igreja seja perfeita para a amarmos; que os outros nos considerem para os servirmos. Comecemos nós. Isto é acolher o dom da graça. E a santidade não é outra coisa que o cuidar desta gratuidade. Francisco socorreu-se de uma lenda segundo a qual os pastores corriam para a gruta com os seus dons, mas havia um tão pobre que não levou nada, e ficou de lado, como que envergonhado, enquanto os outros disputavam entre si na oferta que faziam. A certa altura, José e Maria já não conseguiam receber todos os dons, sobretudo Maria, que tinha o Menino nos braços. Vendo o pastor de mãos vazias, pediu-lhe que se aproximasse e colocou-lhe Jesus Menino nas mãos. O pastor, recebendo Jesus, deu-se conta de que tinha recebido o que não merecia: tinha nas mãos o maior dom da história. E aquelas mãos, que lhe pareciam vazias, tornaram-se o berço de Deus. Sentiu-se amado e, superando a vergonha, começou a mostrar Jesus aos outros, pois não conseguia guardar para si o dom dos dons. «Caro irmão, cara irmã, se as tuas mãos te parecem vazias, se vês o teu coração pobre de amor, esta noite é para ti. “Apareceu a graça de Deus para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz de Natal”». ---------------- ERRATA: O texto que ontem publicámos neste mesmo espaço é da autoria de Artur Soares e não de Narciso Machado. A ambos os colaboradores e aos nossos leitores, apresentamos as nossas desculpas.
Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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4 janeiro 2020