Hoje quero falar de um homem que me acompanha há 23 anos como sacristão da Igreja de Nossa Senhora-a-Branca, em Braga, de que sou o Reitor há 38 anos.
Em boa hora o padre António Macedo, então pároco de Nogueiró e Tenões, me aconselhou a falar com o Benjamim para substituir o Domingos Ribeiro, que tinha falecido uns tempos antes. Traçou dele uma imagem de pessoa dedicada, muito competente e zelosa pela Igreja.
O Benjamim Sousa Ferreira, assim se chama, correspondeu inteiramente e superou tudo quanto o bom colega sacerdote me tinha dito sobre ele. Tendo o curso de Contabilidade e Administração feito na Escola Secundária Alberto Sampaio, pôs a render as aprendizagens feitas e constituiu, desde cedo, um forte suporte no decorrer das obras que iam sendo feitas na Igreja, pois se encarregava de guardar tudo quanto eram plantas, facturas, recibos, devoluções de IVA, anotação de ofertas de benfeitores e passagem de recibos para os mesmos, e toda a outra documentação, primeiro em estreita colaboração com o incansável colaborador, Serafim Ribeiro e, após a morte deste, assumindo em pleno as funções a ele confiadas pela Mesa da Irmandade.
Uma preocupação acrescida com a segurança da Igreja surgiu, primeiro com o furto de uma imagem de são Bento e, tempos depois, de uma da Senhora do Bom Despacho, no curto espaço de tempo entre o final da eucaristia das 19 horas e o fechar da Igreja. Imagem que felizmente pudemos recuperar no dia seguinte, quando o ladrão se aprestava a fazer negócio com uma antiquária da Rua do Forno, que entretanto tinha sido avisada por um comum amigo a quem o ladrão tentara, antes, vendê-la e que este reconheceu como sendo da Senhora-a-Branca.
E em questões de cuidado com a segurança das instalações da Igreja e anexos não há quem seja mais exímio em tudo tentar verificar se está ou não no devido lugar e com os devidos cuidados de segurança.
Não temos necessidade de lhe dizer que leituras são as próprias do dia, quais as orações, qual o melhor prefácio, qual a oração eucarística mais apropriada, porque, além de conhecer bem as normas da Introdução Geral ao Missal Romano, sabe muito bem ler e documentar-se com as indicações do «Directório Litúrgico».
Apenas um apontamento que diz bem do seu interesse. Na missa vespertina da Festa de Cristo Rei, poucos minutos depois de ter saído do Hospital, onde tinha sido sujeito a uma intervenção cirúrgica na quarta-feira anterior, não foi para casa sem antes passar pela Igreja para ver se estava tudo em ordem.
Entre outras coisas, queria garantir que uma das intenções de missa em sufrágio de um jovem universitário da Universidade do Minho, falecido na queda de um muro, era celebrada, pois os pais, residentes em Ribeira de Pena, fazem questão de mandar celebrar no último sábado de cada mês e de nela participarem.
Já antes, ainda no hospital, tinha ele extraído do computador as indicações da equipa de liturgia para a celebração dominical, dando ainda indicações a quem o ficava a substituir de que era aconselhável colocar o Círio Pascal em lugar de destaque e tocar a campainha na entoação do «Glória a Deus nas alturas».
Aproveitou as oportunidades para se familiarizar com a utilização do computador, para fazer o 12.º ano, para frequentar cursos de preparação para a função de sacristão e membro responsável e vivo de uma comunidade cristã, manifestando uma cultura superior à média e até a pessoas com cursos superiores.
Sabe dar razões da sua fé e não tem vergonha de, publicamente, tentar clarificar tantos mal-entendidos que povoam as mentes de muitos cristãos. Frequenta o Grupo Bíblico que há anos se reúne na Igreja da Senhora-a-Branca.
Sabe e esmera-se em que as missas mais festivas das grandes solenidades do ano litúrgico sejam celebradas com toda a dignidade, com as respectivas procissões de entrada e saída, com cruz processional, lanternas, turíbulo e Evangeliário.
Esmera-se na celebração do Mês de Maio e na procissão de velas do dia 12. Vive a Igreja com o carinho e a entrega que só um grande amor pelo que faz ajuda a entender que nunca tenha esmorecido.
Não admira, por tudo isto, que os párocos actuais de São Vítor, o anterior, Monsenhor Joaquim Morais da Costa, o Doutor Sousa Fernandes, o padre Júlio Vaz, bem como os frequentadores habituais da Senhora-a-Branca se tenham vivamente interessado pelo bom êxito da intervenção cirúrgica e rejubilado pela maneira célere como as coisas se resolveram a contento.
Esta singela reflexão quer exprimir quanto me sinto grato pelo que ele é e pelo que faz para todos podermos dar maior glória de Deus e sermos construtores de paz e faróis de esperança.
Autor: Carlos Nuno Vaz