Nos últimos tempos, a comunicação social tem dedicado muito da sua atenção para personagens e factos que aguçam fortemente a atenção das pessoas, por se tratar de gente importante e que tem ou teve uma preponderância relevante no mundo empresarial. Refere-se aqui a toda a problemática criada à volta de Isabel dos Santos e da sua onda colossal de negócios, fora e dentro de Angola e do nosso país também.
Até há não muito tempo, parece que tudo corria de acordo com a normalidade dos processos utilizados pela filha do anterior Presidente de Angola na gestão do seu poderio. Mas, eis que os “media”, de forma algo súbita, começam a manifestar indícios de que esse horizonte de dinheiro e de poder económico esconde um sem número de irregularidades que situam a sua empreendedora na secção das condutas imorais.
Confesso a minha ignorância pelo que se passou ou passa com os horizontes profissionais desta senhora. Apenas tenho presente a sua condição de filha, até há uns meses, do chefe principal da política angolana, que, tanto como me consta, tem a sua saúde fortemente abalada e procura tratamento adequado fora do país que dirigiu.
A minha posição não é de simpatia ou de antipatia para com Isabel dos Santos. Nem sequer fruto de uma dedução que germina agora em muitas cabeças: “Claro, enquanto o pai esteve no poder, ela fez aquilo que lhe apeteceu e de mais proveitoso. Reconheça-se a sua capacidade de gerir e de enriquecer, mas é “evidente” que noutra situação, ela não teria tido a oportunidade de mexer tanto no capital e de se tornar a dona de um império que é um colosso. Isto prova que o regime angolano não é democrático e favorece quem está ligado ao poder. É por isso que, como o pai está na reforma e fora de combate, vem ao de cima toda a arquitectura dos seus processos soturnos de fazer dinheiro e de se tornar um potentado”.
A minha posição, esclareço-a já, é de que a justiça funcione com rigor e com objectividade. Posso ter suspeições ou até desejos de que seja punida a pessoa em causa. No entanto, é um ponto de partida injusto, porque me inclina para que os factos apurados – se chegarem a ser apurados – condenem sem piedade quem me parece – ou até dou por suposto – que prevaricou e usou duma situação de privilégio, por ser filha de um presidente dum país onde quem tem o poder, ao que parece, o gere de modo favorável às suas conveniências políticas e familiares.
Que a justiça funcione! Ou seja, que se há razões condenatórias da pessoa em causa, que o faça com objectividade. Que se há factos e processos de trabalho que não são justos e ferem as leis vigentes, que apareçam de forma irrefutável.
A justiça não deve decidir apenas a partir de congeminações mais ou menos credíveis. Quando muito, estas poderão tornar-se caminho de investigação que chegue a uma conclusão sobre a realidade concreta das conjecturas lançadas.
Numa palavra, que se faça justiça “justa”. Ou seja, que se apure a verdade real e objectiva dos factos e não se passarinhe por regiões onde o “foi mais-ou-menos-assim-que-isto-se-passou-como-eu pensava (estava-se-mesmo-a-ver!)”, se torna a razão de ser das conclusões que, previamente, gostaríamos que fossem tiradas. Ora, a comunicação social, por vezes, funciona desta maneira, apresentando como evidências o que não passa duma mera suposição. E isto não tem nada a ver com o que é justo.
Não me prende nenhuma simpatia ou antipatia pela filha do antigo presidente angolano, como dizíamos atrás, mas um desejo sincero de que a justiça venha ao de cima devidamente comprovada.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva