A Páscoa, que é uma das celebrações móveis – não tem data fixa – do ano litúrgico, é celebrada este ano em 16 de abril. Aos três?dias que a precedem dá-se o nome de Tríduo Pascal, que vai da Missa vespertina da Ceia do Senhor até à Vigília Pascal, que Santo Agostinho apelidou de mãe de todas as vigílias.
2. O vocábulo Quaresma tem a sua origem no número 40. Evoca a caminhada de 40 anos feita pelo Povo Bíblico desde a libertação do Egito até à entrada na Terra Prometida; os 40 dias do dilúvio, que purificou a terra; os 40 dias durante os quais Moisés se preparou, com o jejum e a oração, para o encontro do Sinai; os 40 dias dedicados por Jonas à pregação da penitência; os 40 dias que Jesus dedicou ao jejum, no deserto.
3. Preparando-nos para a celebração da Páscoa, a Quaresma alerta-nos para a condição de peregrinos. Somos um povo que caminha em direção a Deus, a fim de, com Ele, celebrarmos a Páscoa eterna.
Ao longo deste peregrinar há poeiras que nos vão manchando. A Quaresma adverte-nos para essa realidade e convida-nos a um esforço de maior controlo sobre nós mesmos e de purificação. Há esforços a fazer, e a penitência quaresmal contribui para o fortalecimento da vontade.
4. Quaresma é tempo de aprofundamento da consciência sobre o que é ser cristão e procurar viver em conformidade.
É tempo de mais atenta escuta da Palavra de Deus e de uma catequese mais aprofundada sobre a condição de batizado.
É um tempo de recolhimento e de oração.
É um tempo marcado pela austeridade, de que são sinal a omissão do Aleluia na Liturgia das Horas e na celebração eucarística, a ausência de flores nos altares, o uso moderado dos instrumentos musicais (só permitido para sustentar o canto), a abstinência e o jejum. São exceção apenas os tempos litúrgicos classificados como solenidades e festas e o IV domingo, Domingo Laetare, que convida à alegria, dada a proximidade da Páscoa.
5. Para ajudar à vivência da Quaresma existe a Disciplina Penitencial da Igreja, centrada no jejum e na abstinência. Disciplina a viver mais no respeito do espírito que lhe está na origem do que no cumprimento farisaico das palavras que a materializa, como já referia o Profeta Isaías (58, 1-9).
Bem vivido, o espírito de penitência leva à conversão interior que se concretiza na mudança de vida. À prática da reconciliação com Deus e com os outros. Aliás, um cristão que o procura ser verdadeiramente não espera pela Quaresma para celebrar a reconciliação, mas procura andar reconciliado, sem pesos na consciência e sem ressentimentos de qualquer espécie.
6. Quaresma é tempo para refletir sobre a atenção prestada aos outros, que sempre devem ser vistos como se fossem o próprio Cristo em pessoa. Ver Cristo, muito particularmente, no pobre e no ofendido.
É convite a um maior compromisso na construção de um mundo mais justo, mais solidário, mais fraterno.
É altura para pensar a sério na atividade política, entendida esta no verdadeiro sentido do termo: o serviço à comunidade e não a busca de tachos e de situações de privilégio. Neste sentido, a vivência da Quaresma pode ser um forte abanão no comodismo e na indiferença de quantos permanecem agarrados ao sofá, esquecidos de que o amor ao próximo também é o empenhamento em algumas das diversas estruturas da sociedade, a fim de que as pessoas sejam cada vez mais respeitadas e melhor servidas.
Quaresma também é tempo para mostrar que a grande luta a empreender consiste mais em dar cada vez melhor qualidade à vida do que em perder tempo a discutir a qualidade da morte.
Autor: Silva Araújo