Desde os finais de Fevereiro do corrente ano que a guerra na Ucrânia dura e, ao que parece, não vai parar tão cedo. Quem a provocou, enganou-se redondamente nos fins que pretendia com a “operação militar especial”. Contava com uma espécie de manobra rápida e sem problemas, e encontrou uma resistência corajosa do povo ucraniano, auxiliado por potências ocidentais.
Um ditador, que não admite ideias diferentes das suas quando toma uma resolução, pensa que o que determina se concretizará nos termos previstos pelas suas intenções. Habituado a mandar sem ter oposição que o conteste (ou se o contesta é rapidamente calada pelas forças que lhe são fiéis) decide o que, no seu pensamento, deve realizar-se de forma inquestionável.
Durante este tempo de confronto bélico, de ambas as partes, há muita gente, sobretudo da órbita militar, que perdeu a vida. Os números de baixas que os russos e os ucranianos apresentam são sempre discutíveis, porque certamente pretendem, com eles, manifestar que o teor da guerra está a seu favor. Em todo o caso, também há dados que outras potências apresentam sobre esta contenda e são mesmo muitos os milhares de soldados falecidos de parte a parte. E também faleceu muita gente pacífica ucraniana, devido aos bombardeamentos que, quase com incidência diária, as forças russas lançam sobre cidades e povoações do país que invadiu.
Recentemente, os ucranianos, possuidores de “drones” de grande capacidade de deslocação, começaram a atacar território russo, nomeadamente bases militares. Segundo as notícias de um dos últimos dias, conseguiram atingir um alvo a 600 km da sua fronteira. E peritos militares deste país observaram que tal forma de ataque pode ir muito mais longe do que esta distância indica, o que será, certamente, para a Rússia, um sobressalto constante. Por esta razão, Putin, segundo informações saídas nos “media”, reuniu-se com os seus conselheiros para, decerto, procurar soluções.
Uma guerra é sempre uma atitude onde o ser humano parece que perde a natureza de ser racional, volitivo e afectivo. A sua liberdade é com certeza mal usada, salvo em casos em que a legítima defesa leva o agredido a reagir da maneira mais adequada. No caso desta situação, a Ucrânia, país independente e reconhecido como tal por todo o mundo, nomeadamente por entidades tão relevantes como a ONU, está no seu pleno direito de se defender.
E o chefe do estado russo, tendo plena consciência de que a sua iniciativa é condenada praticamente de uma forma universal, não quer desistir dos seus planos. É óbvio que quem começou uma guerra de modo tão imprevisto e sem razões credíveis, a não ser as que o seu poder decidiu, não a quer perder. Não havendo actualmente verdadeira liberdade de expressão no país invasor da Ucrânia, é óbvio que os seus compatriotas apenas sabem aquilo que convém ao que Putin achar conveniente. Mas isto de ocultar os gastos que a sua pátria tem de enfrentar, a quebra de exportações e tantas outras consequências económicas não podem deixar a sociedade russa de se perguntar a si mesma pelas razões de tal situação. Isto para nem sequer abordar o tema das mortes dos seus soldados, que são bastantes milhares, deixando muitíssimas famílias de luto.
Até quando é que o flagelo desta guerra durará e será notícia – ultimamente, suponho, menos notória – nos meios de comunicação social? Alguns começam a falar da perda de prestígio de Putin e até dos seus possíveis sucessores. O que todos esperamos é que esta “Operação militar especial” se dilua quanto antes e que a vida de milhões de ucranianos refugiados noutros países, ou deslocados para regiões da sua pátria onde os efeitos da invasão não são tão violentos e perigosos, acabem de uma vez para sempre. E lamentamos que tanta juventude, quer ucraniana, quer russa, esteja a dar diariamente a sua vida neste confronto violento, que a mente de um governante determinou. Para ele, isso não conta. Continua a ter razão, ou melhor, a querer que o mundo se dobre diante dos seus preconceitos belicistas. Calculou mal e de forma lisonjeira, sonhadora e romântica a sua ideia de “desnasificar” a Ucrânia. Para isso se evidenciou como um chefe indiscutível (tal como Hitler), que faz padecer uma terra que não lhe pertence e não se importando que, para que as suas determinações se cumpram, morram diariamente cidadãos russos e ucranianos. Já terá perguntado a si mesmo a razão que levou tantos jovens seus compatriotas a fugir da Rússia para não serem mobilizados? Dá ideia de que Putin, antigo membro da KGB, polícia política de má memória do regime comunista da União Soviética, ainda age e pensa como era normal fazê-lo nesses tempos.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva