Esta semana, o mítico chefe de gabinete de scouting do Sporting CP, Aurélio Pereira, recebeu a “Ordem de mérito” da UEFA, pelos 50 anos de préstimos a este clube, eu diria ao futebol português, na prospeção e captação de talentos desportivos para a modalidade. A iniciativa partiu de uma proposta da FP de Futebol que endereçou uma carta ao organismo europeu que tutela o futebol.
Esta proposta, justíssima, não só reconhece a mais-valia da intervenção ao longo de tantos e tantos anos, como é ainda mais significativa por reconhecer quem trabalha na formação inicial da carreira desportiva de muitos atletas. Para quem não sabe, este senhor do futebol português foi o “olheiro” que descobriu nomes como Cristiano Ronaldo, Simão, Figo, Futre entre muitos outros.
O grande objetivo do trabalho de captação de jovens talentos é muito importante para alimentar com eficácia o sistema desportivo com novas gerações. Mas, também, na lógica de negócio, com a possibilidade de compensação económica em vendas posteriores.
Os critérios de prospeção e seleção variam muito, mas algumas caraterísticas físicas, tático técnicas, mas essencialmente, as emocionais e volitivas são determinantes e, eventualmente, comuns a muitos desses departamentos de scouting. Quando não existem critérios, bem definidos, para a prospeção e recrutamento de novos intervenientes, o fator “sorte” aumenta e o grau de insucesso é muito mais elevado.
Hoje a captação da atenção e do interesse dos jovens para a prática desportiva está cada vez mais difícil, e se não for atrativa ainda pior, daí que a busca incessante de “talentos” é uma importante tarefa para assegurar o futuro. Contudo é sempre um trabalho difícil, porque se avalia “potencialidades”, que podem eventualmente nunca se manifestar.
O momento da captação é fundamental, mas ainda mais importante é criar as oportunidades de evolução até atingir o rendimento. Tendo em conta o atual estado económico de muitos clubes, a racionalização das despesas devia reequilibrar-se com a melhoria da política de recrutamento e formação, na melhoria das condições físicas dos espaços de trabalho, mas também na criação de um sistema criterioso de atuação.
A melhoria dos processos de formação dos atletas (técnica, física, tática, cognitiva, humana, emocional e psicológica) é muito complexa, mas devia ser uma prioridade para qualquer clube. Cada vez mais se veem os clubes com boas condições de trabalho, com investimento forte nesta área, mas a descurar os principais princípios no acompanhamento efetivo dos atletas.
Formar não é só ensinar a jogar. Formar é atender às caraterísticas de partida do atleta e facultar-lhe as oportunidades para atingir o futuro com sucesso e estabilidade. E é aqui que o mérito do Aurélio Pereira é reconhecido, foi/é um “olheiro”, um tutor, um pai, alguém que foi/é capaz de orientar e proporcionar um caminho humanista, de glória, de sucesso, sem vedetismo. Criou um sistema de detetar o potencial humano e futebolístico. Eu diria que foi/é um mestre na organização da aprendizagem para a vida, mas também para o futebol.
Autor: Carlos Dias
Prospeção

DM
2 março 2018