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Prólogo do Ano Novo

Passado mais um ano que não deixou grandes saudades, eis-nos no terceiro dia de 2023 com muitos receios e inquietantes expectativas, não fosse a imprevisível situação internacional a condicionar o nosso futuro coletivo.

Na verdade, a guerra na Ucrânia, a tensão comercial entre os Estados Unidos e a China, os vários conflitos em diferentes latitudes do planeta e as fragilidades latentes no seio da União Europeia, não auguram um amanhã tranquilo.

Todavia, se todos estes contextos externos nos desassossegam, as sucessivas polémicas e consequentes demissões no atual governo de António Costa não só expõem sinais preocupantes de instabilidade como também dão mostras de um caminho errante.

Custa a perceber a qualquer pessoa mais atenta que depois de ter obtido uma maioria parlamentar nas recentes eleições legislativas, o Primeiro-ministro de Portugal não tenha as condições indispensáveis para formar uma equipa competente e coesa capaz de bem governar. É por esta e por muitas outras razões, nas quais se destacam a morosidade na Justiça, a insatisfação dos professores na Educação, o estado do Serviço Nacional de Saúde, as infindáveis greves na CP Comboios de Portugal e as permanentes quezílias na TAP, que frequentemente e nas mais variadas circunstâncias se ouvem de muitos portugueses anónimos lamúrias e desabafos que retratam bem o sentimento do seu desalento e da sua insatisfação.

Expressões como “os políticos são todos iguais”, “estamos entregues aos bichos” ou “só querem tacho” são ouvidas com frequência, entre outros locais, à mesa do café ou no quiosque dos jornais, traduzindo revolta e descontentamento.

O que se tem visto com o atual governo saído da maioria parlamentar do Partido Socialista é inédito e confrangedor e mais um motivo desses desabafos.

Apesar de circunstâncias e enquadramento distintos, em 2005, por muito menos, Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições antecipadas, retirando de cena Pedro Santana Lopes.

O Primeiro-ministro, António Costa, pode estar tranquilo quanto à possibilidade de o Presidente da República pôr fim ao seu governo. Este ainda bem recentemente o garantiu e afirmou que no presente contexto é necessário preservar a estabilidade, mas no entanto não deixará de estar vigilante.

De facto, António Costa ao longo dos sete anos que leva como líder do governo tem gozado do apoio permanente e até de alguma complacência de Marcelo Rebelo de Sousa. Para justificar esta afirmação, basta lembrar a calamidade causada pelos incêndios de Pedrogão Grande e concelhos vizinhos em 2017. Nessa altura, António Costa, chefiando um governo minoritário apoiado pelos partidos da extrema-esquerda, viu o Presidente da República perder a oportunidade de pôr fim ao seu poder perante as falhas que provocaram a tragédia que causou várias dezenas de mortes e a destruição de muitas centenas de casas e empresas.

Neste cenário pouco auspicioso para o ano que ainda agora começou, urge que António Costa tente corrigir o caminho errante que se tem visto e faça jus à confiança que os portugueses nele depositaram no último escrutínio eleitoral. Aos partidos da oposição exige-se que façam o seu trabalho de modo a poderem oferecer aos portugueses uma alternativa credível e mobilizadora perante uma crise ainda mais profunda que nos possa bater à porta.

Vivemos tempos de grande turbulência e de muita incerteza!

É importante não esmorecer e cultivar a esperança. É essencial manter a serenidade e estar alerta. É imperioso valorizar os bons princípios, tantas vezes desleixados, da honra, da verdade, do valor do trabalho, da solidariedade, da justiça e da paz. Se o fizermos, seremos capazes de revigorar o alento para encarar o futuro com mais determinação e coragem.

É com esta reflexão e com espírito natalício que cumprimento os leitores do Diário do Minho desejando-lhes um 2023 com saúde, próspero e muito feliz.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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3 janeiro 2023