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Progressista ou conservador?

1.Um grupo de pesquisa do INSEAD (França) concluiu que o nosso cérebro, no seu modo de decidir, tende a ser mais progressista do que conservador. Então porque há pessoas conservadoras na vida? Porque ser progressista ou ser conservador não depende apenas dessa tendência, mas também de outros factores, como a influência do meio familiar e cultural onde nasceu e cresceu, da influência do meio social, profissional e político em que vive, das suas experiências de vida e da forma como reagiu aos sucessos ou insucessos, da sua capacidade de abrangência para elaborar novos projectos de vida e ser capaz de os executar, dos valores que construiu e pelos quais optou... Segundo esse estudo do INSEAD, focado na forma da avaliação das metas de processamento do cérebro, se olharmos para a forma como o nosso cérebro avalia as metas que tem pela frente, “as pessoas sentem que é mais fácil alcançar uma pequena meta do que manter o status quo quando ambos os objectivos são avaliados isoladamente”. Não se pode, contudo, esquecer que neste processo também interfere a sensibilidade pessoal mais ousada ou mais tímida de cada um: em princípio, o optimista valoriza mais a ousadia e os aspectos positivos, ao passo que o mais inseguro valoriza mais os riscos de perder e, por isso, se foca mais no negativo, embora com pena de não ser capaz de alcançar o positivo. O peso da história pessoal é um factor influente no nosso modo de reagir. Ninguém nasce tímido ou nasce ousado, as circunstâncias da vida e o modo como a elas reagimos é que nos vão moldando. E são poucos os que conseguem superar essas influências. Como todo o objectivo novo exige novas estratégias de acção e comporta sempre alguns riscos, só os mais ousados e capazes avançam, minimizando esses riscos em função das vantagens que esperam obter; os outros ficam pelo caminho a lamentar-se ou então ficam a dizer mal dos que conseguiram avançar, para minimizar os seus êxitos e assim se sentirem mais compensados. 2. Antonios Stamatogiannakis, um dos autores desse estudo no INSEAD, afirma que “a nossa avaliação do contexto é fortemente impactada por um viés de negatividade, porque o nosso cérebro evoluiu ao longo dos milénios para ser mais sensível às más notícias do que às boas notícias”. É verdade. Mas, eu diria que ninguém corre atrás de más notícias; só os mais frustrados é que tentam compensar-se com a miséria dos outros, para disfarçarem o seu insucesso e não se sentirem sós. É um velho truque de autoprotecção: se não posso ter, junto-me aos que não têm… (mas com secreta vontade de ter). Para mudar esta tendência de enviesamento compensatório é preciso apostar numa forma de educação para o sucesso, num estilo de educação em que se valorize mais a afirmação e a autonomia pessoal e não apenas a dependência do que os outros dizem, se valorize uma educação em que, usando embora o saber já adquirido, se eduque também para a descoberta de novas oportunidades. A cultura europeia ainda está muito marcada pela tradição da descendência (valoriza-se muito ser descendente de…), enquanto a escola americana valoriza mais a ascendência, a capacidade de se afirmar e de inovar. Uns vêm do passado, outros vão para o futuro... Ainda, há dias, o psicanalista Dr. Coimbra de Matos chamava a atenção para isso: a análise dos sonhos é importante, mas é mais importante a análise dos sonhos acordados que se projectam conscientemente no futuro. Extrapolando para os sonhos do Ano Novo, diria que é preciso sobretudo construí-lo com as suas próprias mãos, não esquecendo embora as lições do passado. Assumir uma atitude conservadora na vida autolimita, deixando-se aprisionar pelo medo de abrir as janelas do coração aos desafios do sol que brilha lá fora da sua clausura, aos apelos das novas realidades que vão surgindo… Com medo do insucesso, coloca-se contra a tendência progressista do seu cérebro. O medo faz parte da vida, mas é melhor que ele se confine ao quadro daquilo a que chamamos prudência. Ser prudente, sim; ter medo, não. O mundo é dos que arriscam e constroem novos mundos e levam nos seus olhos a estrela da alegria… Venha daí, que não está só!
Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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13 janeiro 2019