Não pretendo que qualquer jornalista seja um católico praticante, embora, digo a verdade, gostasse que todos o fossem. Respeito a liberdade dos outros como desejo que respeitem a minha. Mas penso ter o direito de exigir que, no exercício da profissão, todos sejam bons profissionais. É mais que legítima esta exigência. No jornalismo como em qualquer outro ramo de atividade.
Em minha opinião, a falta de prática religiosa não justifica a ausência de conhecimentos religiosos. É uma questão de cultura geral.
No mundo da Comunicação Social o profissionalismo também passa por dar às coisas o seu verdadeiro nome. Não se admite que um repórter desportivo chame à execução de um pontapé de canto marcação de grande penalidade. Como se não deve admitir que uma jornalista chame homilia a uma missa exequial, como ouvi repetidas vezes.
2. O que aconteceu no funeral do falecido bispo do Porto tem sucedido noutros casos, quando se trata de informar da Igreja.
Há nas redações a preocupação de ter especialistas em política nacional, em política internacional, em economia, em desporto, mas não me parece que sempre exista idêntica preocupação no respeitante à informação ou ao comentário de questões religiosas.
3. Queiram ou não, a religião faz parte da vida de muitíssimas pessoas. São muitos os portugueses que professam a religião católica. Informação de assuntos religiosos deve ter lugar na generalidade dos Meios de Comunicação Social, se querem, de verdade, servir os leitores, radiouvintes, telespetadores. A não ser que prefiram alinhar, a meu ver erradamente, na campanha de laicização mal entendida.
Infelizmente dá a impressão de, para alguns desses Meios, notícias de caráter religioso serem assunto tabu. Atua-se como se não existissem. Mas quando surge algo de negativo, então fala-se disso a toda a hora; exploram-se até à exaustão situações desedificantes ou mesmo escandalosas.
Não há lugar para falar do bem, mas sempre existe espaço para noticiar o mal. É a teoria de não ser notícia o facto de um cão morder um homem, mas o facto de um homem morder um cão.
É notícia o que sai da vulgaridade, mas tanto se sai da vulgaridade pelo negativo como pelo positivo.
Porque será que apenas se evidencia o negativo? Porque será que só o mal é noticiável?
4. Voltando ao assunto. No mundo da Comunicação Social há profissionais muitíssimo competentes, e é da mais elementar justiça reconhecê-lo. Não o fazer é incorrer no tal vício de só falar do negativo. Há muitos profissionais que falam com uma correção admirável, usando uma impecável propriedade de termos. Que escrevem com uma perfeição inexcedível. Mas também os há que deixam a desejar. Aos primeiros, o meu aplauso e incentivo. Aos segundos, a sugestão de que tomem consciência dos seus erros e os procurem corrigir.
Antes de irem para o trabalho, preparem-se convenientemente. E se se sentirem menos capazes de executarem determinada tarefa, digam-no francamente ao coordenador, que também deve ter a preocupação de colocar o homem certo no lugar certo.
Há quem informe maravilhosamente de um festival de folclore e o não saiba fazer devidamente quando se trata de um funeral religioso. É verdade.
5. Já agora, só mais umas perguntinhas:
Será bom jornalismo fazer render o peixe, usando dois mil carateres para o que se podia muito bem narrar com duzentos? Será bom jornalismo entreter as pessoas com um palavreado vazio? E isso de repetir periodicamente a mesma notícia, até com as mesmas palavras? Fazer jornalismo é trabalhar à peça, preenchendo determinado espaço, ou informar com o máximo de verdade, objetividade e independência?
Autor: Silva Araújo