Acreditando, por isso, que já deva ter palrado mais em 12 meses de mandato do que todos os seus antecessores, juntos, em 43 anos de democracia. É, talvez, o único que não anda com a primeira-dama atrelada a si. Razão pela qual se vê livre, como um passarinho, em termos de movimentos. Numa rotação que mais parece contrária à da Terra em relação ao sol, pois em vez de ver as pessoas a girarem à sua volta é ele quem gira em volta delas.
Não é defeito nenhum Marcelo ser alegre, extrovertido e popular, conhecido como foi pela forma comunicativa e, às vezes, avassaladora que fez mossa a vários governos, até Cavaco Silva expirar o prazo como PR. Sobretudo, em alturas de maior complexidade política no país. O que lhe permite sentir-se como o peixe na água: nade, voe, corra no meio das crianças, entre numa “balsa” de náufragos, cante, dance, engraxe os sapatos e distribua, na rua, a revista “Cais”, jante com os sem-abrigo, etc.. E até finte os jornalistas quando tentam que fale do que não lhe convém, preferindo tecer loas ao executivo ou sorrir a metáforas como aquela do “cimento armado”, acicatando os “ciúmes” à direita.
Faça frio ou faça sol, com ou sem a proteção do guarda-chuva presidencial, Marcelo é Presidente, mas não trôpego. O dia para ele precisava ter o dobro das horas, a julgar por aquilo que se desdobra em tudo quanto é evento – como feiras, exposições, comemorações, conferências, inaugurações, etc.. Tudo com ele e em redor dele é um frenesim, uma “chuva” de abraços, uma “tempestade” de afetos, um “temporal” de sorrisos, um “dilúvio” de boa disposição e de “selfies”, chegando para todos. Embora orientado para o rumo que decorre do momento com este Governo – inédito – assente numa, legítima, maioria parlamentar de esquerda engrenada nos seus radicais.
Um estado de graça que se vai mantendo à custa do espaço temporal em que esta “súcia”, afeta ao executivo PS, se aguentar. O qual, diga-se de passagem, tem tido certos fatores a favorecerem-lhe o desempenho nas metas a que está obrigado a alcançar pela EU, sendo a ausência da “troica”, em Portugal, o mais facilitador. Aliás, em sintonia com a Europa, também ela incrédula com a prestação portuguesa. Daí, o Chefe de Estado ver com bons olhos a melhoria dos índices socioeconómicos e a saída do país do défice excessivo a situar-se, previsivelmente, nos 2,1%, quando não baixava dos 3%. Mas não só, pois também porque se tem mantido distante das quezílias partidárias entre o Governo e a oposição, o que vai deixando irritada a sua família política. Ou não fosse ele presidente de todos os portugueses.
Ainda que atento aos escândalos mediáticos que assolam o país, com mentiras de uns, cegueira de outros e mãos largas de uns quantos Marcelo lá vai, cautelosamente, gerindo o seu cargo presidencial a ver no que tudo isso vai dar. Enquanto espera que um novo líder social-democrata surja para limpar a página dos garrotes. Aliás, em sintonia com a opinião pública que rotulou, em tempos, alguém de “senhor televisão”, o mesmo sucedendo, agora, a Passos Coelho a quem chancelou, também, de “senhor austeridade”, não lhe augurando grande peso eleitoral.
Ora, quando os jornalistas perguntaram ao Presidente Marcelo sobre se deveríamos acreditar na palavra de Costa ou no milagre de Teodora, logo pensei que, dentro da sua cultura bíblica, lhes responderia: “em verdade vos digo a Costa o que é de Costa e a Teodora o que é da Teodora”. Mas não. Preferiu remeter, para o foro religioso e dos crentes – como ele – o milagre. Marcelo é assim, imprevisível.
Autor: Narciso Mendes