Alguém dizia acertadamente que, mesmo entre nós, de maioria oficialmente católica, há cristãos, sociologicamente falando, que não sabem quem realmente foi Jesus, o que disse e fez em nosso favor. O Presépio, feito como deve ser, tendo ao centro o Menino Jesus, deitado numa pequena manjedoura, – phatné em grego – ou praesepium como se diz em latim e nós vertemos literalmente em português por presépio, pode tornar-se, como justamente afirma o Papa Francisco: «um convite a “seguir”, a “tocar” a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua Encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O Seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo a encontrá-l'O e servi-l'O, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados».
Dificilmente entendemos que falar de presépio é falar de manjedoura. Não dizemos fazer a manjedoura, mas fazer o presépio. Todavia, as duas palavras exprimem a mesma realidade: Cristo foi recostado, ao nascer, numa majedoura, ou seja, o local onde se coloca a comida para os animais, sobretudo bovinos e equídeos. Em castelhano utilizam as palavras “pesebre” e “belén”, no singular e “belénes” no plural para se referirem à construção dos presépios. Em francês e inglês utilizam a palavra “créche”. Em italiano aproximam-se muito de nós ou nós deles e dizem “presepe, ou presepio” e “mangiatoia”. O Papa Francisco explica que a origem do presépio se fundamenta em alguns detalhes do nascimento de Jesus, fornecidos sobretudo pelo evangelista São Lucas que afirma: «Maria deu à luz o seu filho primogénito, envolveu-o em panos e colocou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles “na hospedaria” (2,7). O italiano verteu 'hospedaria por “allogio” que significa 'habitação, compartimento, moradia.
Dom António Couto diz-nos que Jesus nasceu «num estábulo anexo à “sala de hóspedes” superlotada de uma casa de Belém de Judá, certamente pertença da família de José”. (Estação de Natal, p. 11). Esclarece ainda que a tal “sala de hóspedes”, é o termo mais apropriado e não hospedaria como vulgarmente aparece nas nossas traduções”. Lucas fala de hospedaria na narrativa do Bom Samaritano, utilizando o termo grego «pandocheíon” , distinguindo-o bem de“katályma”. Reforça as suas afirmações aduzindo que a «arqueologia mostrou que o traçado das casas da judeia contemplava muitas vezes no plano térreo uma sala de hóspedes, que apresentava um simples banco rochoso a toda a volta, para facultar o descanso das pessoas em trânsito, abrindo ao fundo para um estábulo, onde se guardavam os animais, que atravessavam, para o efeito, a sala de hóspedes». (p. 11)
Clarifica ainda melhor: «Katályma é uma «sala», a «sala de hóspedes» da casa de família em que José e Maria procuraram abrigo. E foi assim que, não havendo lugar apropriado na 'sala de hóspedes' da casa, Maria deu à luz no estábulo anexo à mesma “sala”, o lugar onde os ocupantes da “sala de hóspedes” deixavam os animais. É assim compreensível que Jesus seja deitado na manjedoura». (p. 30) Não é, portanto, o ambiente de uma gruta de montanha, em que habitualmente montamos o cenário do presépio. «Estamos no curral anexo à “sala de hóspedes” de uma casa normal de Belém. É esse o cenário do Natal. Esse curral ainda hoje pode ver-se na cripta da Basílica da Natividade, em Belém. É um rectângulo de 12,30 metros de comprimento por 3,50 metros de largura, que as grandiosas construções de Constantino ( de 326 a 333) e, sobretudo, de Justiniano (de 531 a 565) entretanto surgidas, sempre respeitaram». (p. 30)
Estaremos perante um enorme empobrecimento cultural se, amanhã, as crianças começarem a pensar que o Natal é só compras e prendas, e já nada souberem do Menino nascido em Belém há mais de 2000 anos e que veio realizar a maior revolução de que há memória no coração da humanidade: a revolução do amor e da ternura. Se nós «já não soubermos contar a história, haverá com certeza cada vez mais compras, prendas, doces e sorrisos, e pais-natais nos hipermercados, mas o milagres não acontecerá. E Natal sem milagre, que Natal é?» (p. 22)
Num momento em que as crianças e os jovens vivem abstraídos e agarrados a um telemóvel ou um iphone, o Papa Francisco diz-nos que fazer o presépio é uma ocasião estupenda para acender a imaginação e favorecer a colaboração e a oração de toda a família.
De coração desejo a todos um Natal vivido cristamente, em que o Menino Jesus seja realmente o centro do Presépio, pois só assim será um Natal Santo e Feliz.
Autor: Carlos Nuno Vaz