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Precisamos de um governo novo

Já estive por diversas vezes no Funchal e sempre constatei haver aí um respeito absoluto dos automobilistas junto das passadeiras de peões. Nenhum se atreve a desafiar a convenção legal, certamente até por uma questão de educação. Quem aí conduz, respeita. E quem usa a passadeira, confia. Vez nenhuma deixei de me sentir seguro. Ao contrário do que se passa por cá, com alguns automobilistas, fazendo tábua rasa daquilo que aprenderam e de algumas regras básicas de educação, a acharem que os peões não têm prioridade relativamente às máquinas que conduzem. Vem isto a propósito do tema que aqui trago hoje, o da necessidade de sermos respeitados, como cidadãos, por aqueles que nos governam. Na passadeira, como no governo, sabemos com quem lidamos. Se podemos confiar e se nos sentimos seguros.

No próximo domingo decidiremos o futuro próximo. Cada um terá uma palavra a dizer. Cada um saberá como se tem sentido a transpor a passadeira dos seus dias e da sua vida. Pessoalmente, estou convencido de que as coisas mudarão e de que teremos um governo viável, que espero ser resultante de um Parlamento pintado de várias cores, sem demasiado rosa nem cor de laranja ou qualquer outra cor. Que seja novo, com um primeiro-ministro novo e um elenco ministerial competente. E que seja confiável e responsável. Que cumpra as promessas sufragadas e respeite os interesses da população. Gostaria de me sentir tranquilo como quando atravesso qualquer passadeira na capital da Madeira.

Sobre a representatividade no Parlamento, gostaria que não houvesse maioria absoluta de nenhum partido. De resto, parece ser essa a tendência, a atender a uma sondagem publicada no final da semana passada: a maioria absoluta é desaprovada por mais de cinquenta por cento dos portugueses. O povo português tem sobeja experiência em a ter escolhido por três vezes, experiência de que não gostou, e o próprio António Costa já a considerou nefasta, perigosa e de má memória para os portugueses. Apesar disso, o secretário-geral do Partido Socialista, tem vindo a pedi-la, num golpe de incoerência. Tem sido, de resto, o único a apelar para que os militantes e simpatizantes lhe dêem esse conforto. Acredito que, mesmo que houvesse disponibilidade dos eleitores para tal, só o fariam a alguém confiável e que tivesse dado provas de respeito pela população. Ora, Costa fartou-se de dizer que era pessoa de boas contas, mas essas muito poucas vezes chegaram ao fim, ficando-se tantas vezes pelo anúncio, talvez no pressuposto de que “prometer também é favor” e que o adágio lhe daria sempre cobertura. Além do mais, é minha convicção de que a maioria dos cidadãos está convencida de que foi o mesmo primeiro-ministro que provocou a crise política em que o país mergulhou, por saber que o seu governo estava roto, já sem imaginação e muito mal visto. Só por isso, ansiar por maioria absoluta é, para além de outras fragilidades, um desplante. É como alguém querer vender no OLX o seu fato gasto por um preço superior ao de um novo em folha. O governo estava “a cair de podre” e vem pedir agora uma maioria absoluta? Só se o povo fosse destituído.

O desiderato do socialista tem ainda outro revés: muitos trocaram, em 2015, o voto para o Partido Socialista por se sentirem enganados por Passos e agora sentem que é altura de regressar às origens. Rui Rio parece merecer o benefício da dúvida, ao contrário do candidato socialista a primeiro-ministro que, não tendo argumentos, resvala e mente, repetindo até à exaustão o que não é verdade. Quem assistiu aos debates sabe que Costa mente, com todos os dentes, e não é coerente: alguém conseguirá diagnosticar esta doença, a de Costa, que se lembra de Passos Coelho e não se lembra de Sócrates? Nem responde a questões que lhe são incómodas, como a de Portugal ter-se deixado ultrapassar nos últimos seis anos, o tempo do seu governo, por vários países da União Europeia. Ao contrário, Rio introduziu esperança na sua mensagem: “se o PSD ganhar as eleições sai a sorte grande ao país”. Quem não deseja que o futuro seja mais promissor? E se é o país a ganhar...


Autor: Luís Martins
DM

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25 janeiro 2022