Quando em 2010 assumi a coordenação do futebol de formação do SC Braga, uma das funções passava por receber empresários de jovens jogadores. Um deles, Jorge Pires, falou-me de um miúdo infantil que em Chaves marcava inúmeros golos, estando a sua vinda para Braga já acertada com o presidente António Salvador.
Era um potencial avançado de excelência que tinha num campo de futebol o seu espaço de brincadeiras diárias, mas que necessitava de outras exigências em trabalho de campo e quadros competitivos condizentes.
Recebemos o “Potinho”, nome com que era carinhosamente tratado na sua região, talvez pelo aspeto antropométrico que não indiciava perfil de avançado de área, como parecia ser o caso, atendendo à fama de goleador.
Na primeira impressão, aqueles olhos vivaços e ar de reguila mostravam que descaramento não faltava e que os professores da Escola André Soares iriam ter de saber lidar com um transmontano atrevido para quem a escola não seria, a 1.ª prioridade. No campo, no entanto, tinha um relacionamento de excelência com a bola, bem como capacidade finalizadora de acordo com o que Jorge Pires tinha afirmado.
Foi crescendo no clube com acompanhamento permanente do gabinete de psicologia e uma espécie de avô emprestado com qualidades humanas acima da média - João Cardoso - que sempre o acarinhou e apoiou. Conseguiu-se que os apanha bolas, na Pedreira, passassem a ser os jogadores mais novos da formação e o Potinho, pela sua irreverência e forma de estar, era muitas vezes um dos eleitos, começando a conviver de perto com futebolistas profissionais e a refinar os seus dotes, na relva, naquelas brincadeiras típicas de intervalos. Era um miúdo de quem todos gostavam e espécie de mascote para os jogadores mais velhos da formação, também de fora, com quem partilhava refeições - Afonso Figueiredo, Ruben Freitas…
No seu batismo de voo, num torneio em Bordéus, no regresso fez questão de se divertir, lançando chicletes para as cabeças de quem viajava à sua frente. Houve penalização condizente.
Fez o seu percurso no SCB até aos sub17 tendo saído para Valência e posteriormente Wolverhampton. No ano transato, quando do regresso a Portugal, coincidentemente, encontrou uma equipa técnica que o conhecia do SCB, pois integravam o departamento técnico da formação em 2010. Conhecendo a sua aptidão goleadora, permitiram-lhe aproximar-se novamente da zona onde era mais eficaz - a área.
O Sporting com necessidade de substituir um médio goleador - Bruno Fernandes - levou-o e, Rúben Amorim mais não fez do que dar asas a quem desde muito novo mostrou saber voar e o que queria.
Recentemente através de amigo comum, ele e o Maxi - que “fugiu” ainda mais precocemente – quando solicitados, disponibilizaram-se prontamente a enviar vídeo de apoio a sportinguista hospitalizado, transmitindo força anímica.
Parabéns Potinho pela humildade e carreira de excelência que estás a construir; parabéns Jorge Pires pelo acompanhamento constante e permanente e pelo olho clínico para o goleador.
Autor: Carlos Mangas
Potinho – o regresso (posicional) às origens
DM
21 maio 2021