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Portugal na mó de baixo...

Sem anátemas de suspeição, ou seja, de espécie de tiro ao prato ou caça às bruxas, a onda negativista e de consequências graves paira num país marcado por tragédias sucessivas, interiorizando um sentimento de tristeza e profunda mágoa pelos cerca de oitenta vítimas mortais e dezenas de feridos, impiedosamente decorrentes de dois “macabros” eventos fatais: o primeiro, relativamente ao incêndio de Pedrógão Grande e, agora, no Funchal, durante as festas da romaria da Nossa Senhora do Monte.

Faz-nos pensar, tentando perceber o que está mal, perante o inexplicável, nunca visto em tão curto espaço de tempo, sobre o que está a acontecer para perplexidade dos cidadãos num regime governativo de mãos atadas na resolução desta “catástrofe” ambiental e propícia ao risco de mais perdas de vidas humanas.

Não consigo encontrar uma textura para a saga de incêndios desde o norte ao sul do país. Os que desconfiam de uma organização criminosa estão vulneráveis à prova das suas desconfianças e Portugal arde como nunca aconteceu. 

É preciso parar para reformular, com honestidade, todos os procedimentos institucionais e cautelares ou preventivos, reforçando os meios de que dispomos e com uma espátula eliminar as assimetrias rugosas responsáveis por este cenário tenebroso de calamidade pública.

Tradicionalmente, perde-se mais tempo a dissecar pelo recurso das técnicas jurídicas a legitimidade das responsabilidades institucionais, isto é, “sacudir água do capote” quando de má índole, em torno da negligência ou abandono dos deveres da proteção civil e patrimonial.

Por esta altura, as campanhas para as próximas eleições autárquicas deviam assentar um compromisso com os eleitores no âmbito do Plano Nacional da Defesa da Floresta Contra os Incêndios, elaborar um prognóstico da cartografia urbana, assinalando os pontos vermelhos de execução, com destaque para a presença da arborização de risco, parque imobiliário devoluto, limpeza e remoção pública de sólidos que contribuam para a degradação do ambiente e ofendam os mais elementares padrões da saúde e qualidade de vida das populações.

O que se testemunha é um país de reformas adiadas e sem postura séria para levar avante liminarmente um conjunto de intenções, desfeitas e desonradas às volumosas promessas eleitorais vincadas à fraude do cumprimento político. 

Urge a varredura desta estilosa forma de governar e substitui-la por outra substância mais enérgica, inovadora, com outra prospeção política regenerada, mais vocacionada na objetividade dos superiores interesses do País e da sua população.

O nosso ego consistente do quotidiano doloroso e reservado através da propagação noticiosa do folclore político que nos invade pelo uso da comunicação social escrita e audiovisual, incentiva-nos à desacreditação face aos indicadores da corrupção ativa, à constante elevação da carga fiscal sobre os contribuintes, a uma saúde cada vez menos pública, à contínua precariedade do emprego, à falsidade dos índices de produtividade e económicos, a acentuada exclusão social, o abandono do projeto nacional dos cuidados paliativos, as pequenas e médias empresas debilitadas, a indefinição do setor educativo, a dualidade de critérios de uma Justiça nas horas da amargura na confiança das pessoas, enfim… um lastro de questões prioritárias a precisarem de uma lavagem adequada em prole do bem-estar do povo Português. “Não basta parecermos sérios, é preciso sê-lo”.

 

Autor: Albino Gonçalves
DM

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21 agosto 2017