Já não bastando sermos um povo de corruptos e preguiçosos, um dos únicos três países europeus com um governo socialista apoiado por comunistas e que, em termos de respeito pelos direitos humanos nas esquadras de polícia, nos classificamos em último lugar, segundo relatório do Conselho Europeu, agora acabamos por conseguir um dos primeiros lugares na lista negra dos que dão pior tratamento aos seus idosos, incluindo vítimas de crime; e estes dados que constam do Relatório de Prevenção Contra Maus Tratos a Idosos da Organização Mundial de Saúde (OMS), colocam Portugal nos cinco primeiros lugares entre 53 países europeus e juntamente com a Sérvia, Israel, Áustria e República da Macedónia.
E esta triste realidade leva-nos à evidente conclusão de que somos um país de flagrantes contrastes, pois, por exemplo, temos o melhor jogador de futebol do mundo, o Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), o Ronaldo das Finanças europeias, um prémio Nobel da Literatura, cozinheiros com estrelas Michelin, campeões olímpicos de atletismo, cientistas e investigadores mundiais e, até, já ganhamos um campeonato europeu de futebol e a Eurovisão da Canção, por isso, caso é para nos interrogarmos sobre a estranha gente que nós somos.
Pois bem, o assunto que, aqui, hoje me traz é o referido Relatório da OMS que nos cobre, ao mesmo tempo, de vergonha e perplexidade, e, sobretudo, nos coloca a todos a questão fundamental sobre a forma como conviver e tratar os nossos Idosos, pois não é novidade para ninguém que o nosso país cada vez está mais grisalho; o que significa que a sua população se encontra maioritariamente na terceira e quarta idades ou mais prosaicamente, está velha.
E o fenómeno acontece naturalmente e, sobretudo, numa Europa também ela a tomar-se grisalha como nós, caminhando, a passos largos, para o deserto demográfico, consequência de uma avassaladora baixa de natalidade; e isto porque os avanços da ciência promovem o aumento da esperança de vida, ou seja da longevidade, preconizando já que ainda no presente século o homem possa atingir a marca dos 150 anos de vida – fator que, associado à diminuição drástica de nascimentos, arrasta consequências demolidoras para a vida em sociedade e manutenção da espécie.
E a primeira e mais gravosa consequência prende-se, sem dúvida, com a ordem económica, pois difícil se toma sustentar uma população maioritariamente de idosos que já não trabalha, não produz e sobrecarrega a restante população; ou seja a população ativa torna-se incapaz de alcançar os meios necessários à manutenção da população não ativa, mormente no que respeita à Segurança Social, Saúde, Alimentação e Conforto.
Daqui podem resultar conflitos e convulsões sociais, despertando na população mais jovem sentimentos de desconforto, intolerância, hostilidade e rejeição para com os Idosos, considerando-os um estorvo e obstáculo ao bem-estar e progresso socioeconómicos e sociais; já, em tempos, um jovem deputado, num rasgo de má-criação e imbecilidade, referindo-se aos nossos idosos os apelidou de peste grisalha, numa antevisão catastrófica do que o futuro nos pode reservar.
Claro que frequentemente se constata que o tratamento dado aos idosos, seja em família, nos lares ou em sociedade nem sempre é o mais adequado, recomendado e desejado, basta analisarmos o dia-a-dia da maioria dos lares, onde a vida parou para a maioria dos utentes; igualmente casos vão surgindo de maus tratos, abandonos, solidões e pressões psicológicas e morais cada vez com maior frequência.
Agora, sendo a velhice um problema europeu, tratado e equacionado deve ser nas instâncias da União Europeia; e de que resultem medidas comuns de promoção, proteção, acolhimento e integração plena, ativa e feliz dos Idosos nas respetivas sociedades de origem. Porque, afinal, uma sociedade que não respeita, não protege, não acolhe, não promove e não integra os seus Idosos é uma sociedade débil e desestruturada, pois ignora e renega o seu passado e não prepara nem garante o seu futuro; e não é obviamente com o materialismo, egoísmo, individualismo, hedonismo e relativismo – valores que regulam as relações humanas atuais – que Portugal grisalho numa Europa grisalha alcançará os paradigmas cognitivos, humanos, culturais e espirituais de uma sociedade verdadeiramente democrática e livre, onde os Idosos têm o seu lugar garantido e consequente.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Portugal grisalho numa Europa grisalha
DM
13 junho 2018