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Portugal e a Europa na era de Trump

Numa altura em que o mundo vive tempos conturbados de intranquilidade e onde o terrorismo internacional é uma ameaça que fez desapertar nas sociedades um sentimento de insegurança e de medo, é crucial que os povos do Velho Continente encontrem os caminhos que lhes permitam manter o essencial do projeto europeu e com ele conservar a relativa tranquilidade que tivemos nas últimas décadas.

Na realidade, este enorme desafio está eivado de enormes problemas que se foram instalando no seio da própria União Europeia (EU), sendo o mais perigoso a saída eminente do Reino Unido. Se este é por si só um rombo de consequências imprevisíveis, que dizer da situação política de grandes países como Alemanha, França, ou Itália, onde populismos extremistas ganham expressão ameaçadora? Como se estas temíveis dificuldades não bastassem, acrescem outras tantas que advêm da situação vivida em vários países do norte de África e do Médio Oriente, na região do Báltico, na Turquia, no leste da Ucrânia onde pululam focos de instabilidade latente suscetíveis de num ápice contaminarem a paz na Europa. E como solucionar o drama de milhões de refugiados que fugindo da fome e da guerra procuram abrigo em solo europeu?

É este verdadeiro colete-de-forças que a Europa tem de ser capaz de romper, reforçando os mecanismos de coesão e de solidariedade.

 Neste contexto, é de saudar a cimeira dos sete países do sul da União Europeia (Portugal, Espanha, Grécia, França, Malta, Itália e Chipre) que, na sua segunda edição, reuniu no último sábado em Lisboa. Os sete chefes de Estado e de Governo realçaram, entre outras matérias, a necessidade de considerar a segurança europeia como uma prioridade e de “tornar a UE numa força de paz credível na região”. O terceiro encontro ficou agendado para abril, em Madrid, esperando-se que estas reuniões possam contribuir para o renascimento do projeto europeu com a pujança e os ajustes que as circunstâncias atuais exigem.

Quanto a Portugal, admito que o seu papel sairá reforçado no seio da EU participando não só na discussão das questões que afetam os países mediterrânicos, mas também nas diferentes instâncias europeias apontando soluções para a resolução dos graves problemas que a enfraquecem, como a crise do euro, ou a forma de ultrapassar o grave problema das dívidas soberanas.

 Em distinto nível, acredito que o nosso país não deve esquecer a sua vocação atlântica, não pode deixar de lembrar a velha aliança com a Grã-Bretanha, precisa de reforçar o seu papel na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), de fazer valer os créditos da grande comunidade portuguesa e luso-descendente nos Estados Unidos e Canadá e de erguer a sua voz contra os ventos da história que o novo presidente daquele poderoso país começou a semear, ameaçando drasticamente a ordem internacional. 

Neste capítulo, por pensar que Portugal deve assumir um papel fundamental na dinamização da CPLP, não posso deixar de louvar o documento de aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico de 1990 (A090), aprovado na passada quinta-feira pela Academia de Ciências de Lisboa (ACL), onde é proposto o regresso de consoantes mudas, do acento gráfico, em alguns vocábulos, do circunflexo, noutros, assim como do hífen. 

Ninguém duvidará da racionalidade das emendas propostas e não pode haver interesses económicos ou quaisquer outros que possam impedir a genuinidade da nossa língua. Por isso, além de uma efusiva saudação, espero que a deliberação da ACL, por larga maioria, venha a ter as consequências que milhões de portugueses há muito anseiam.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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31 janeiro 2017