Estamos em pleno Outono que se iniciou a 23 de setembro – momento em que o respetivo Equinócio marca a igual duração do dia e da noite; e esta igualdade resulta do movimento anual aparente do Sol, quando rigorosamente corta o Equador dando
origem à diminuição dos dias e ao crescimento das noites, até ao Solstício de Inverno. 21 ou 22 de dezembro, – momento em que o Sol alcança a sua posição mais a sul do Equador celeste que corresponde ao dia mais curto do ano.
Todavia, ainda pouco visíveis são as caraterísticas naturais do Outono: os primeiros frios e chuvas, manhãs serenas e frescas e tardes mornas, amanheceres claros e entardeceres ensanguentados; e isto nos leva a concluir que somente o calendário marca a exatidão do tempo na sua inexorabilidade cronológica que não física e ambiental.
E até os poetas que sempre no Outono cantaram com inflamado estro e doce encanto a queda e revoltear das folhas secas pelas calçadas, o voejar das fumarolas dos assadores de castanhas ou os poentes vários e nostálgicos, agora lhe viram as costas; e igualmente nos lamentamos das alterações climáticas que acontecem, a ponto de evidenciarmos o fim das quatro Estações de antigamente (Primavera, Verão, Outono e Inverno) que, agora, se reduzem a duas, Verão e Inverno, e nem sempre bem definidas.
Por isso, vivemos em emergência climática e os gritos de alerta e protesto se elevam um pouco por todo o mundo contra os crimes ambientais cometidos; e obviamente tais protestos e gritos são uma clara recriminação aos governantes que têm nas suas mãos que não nas suas vontades a urgente e ainda possÍvel solução para salvar o planeta.
Pois bem, porque não há um planeta B para onde nos deslocarmos, é pela defesa e salvaguarda deste nosso planeta Azul que temos de lutar incansavelmente, concentrando esforços e vontades; e só neste ato coletivo de dar as mãos e empolgar os corações podemos continuar a assistir a enormes manifestações de chamadas de atenção e protesto das camadas mais jovens da sociedade, revelando uma elevada e meritória consciência ecológica e humanitária que os mais velhos tristemente não têm manifestado.
Ora, não são indiferentes a ninguém as ameaças constantes à nossa vida na Terra, pois multiplicam-se as catástrofes naturais e ambientais: tornados, tsunamis, furacões, degelos polares, terramotos, inundações, incêndios -e oceanos transformados em enormes lixeiras; por exemplo, na Gronelândia e no Ártico avança o degelo acelerado dos icebergues que, em breve, fará subir o nível das águas dos mares com a consequente ameaça à vida das pessoas e bens em muitas cidades costeiras.
Depois, a prevista subida da temperatura vai provocar secas extremas em locais do globo onde as dificuldades económicas e de sobrevivência são já uma constante; como igualmente as emissões de gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano, a desflorestação intensiva e a poluição crescente fazem ecoar um grito global de SOS pela defesa da vida, da nossa vida.
Como dizia, há dias, o secretário-geral da ONU, engenheiro António Guterres, a natureza está zangada e não se pode brincar com a natureza. e podemos acrescentar: se não fizermos sacrifícios pelo ambiente e pelo futuro do planeta será difícil nele viver no final do século, o que significa que já não haverá futuro para os nossos filhos e netos.
E, agora, para amenizar esta trágica arrazoada e dar a este Outono que estamos a viver um-tom mais caraterístico e próprio da sua antiga natureza, aqui lhes deixo um belo poema de Maria Helena Araújo, excerto no seu livro Paro em Quatro Estações:
Chegou o Outono...
Frio, chuva e sono…
Foi a enterrar a andorinha.
E enquanto se abria a terra
Disse adeus lá na serra
Todo o bando em movimento.
Chegou o Outono
Frio, chuva e sono...
Morreu a andorinha.
As cigarras a levaram
Fazia chuva e vento...
Vinha da fonte um lamento.
Ficou ali a andorinha...
Cobriram-na de muitas folhas
Coloridas como flores,
Amarelas e vermelhas...
Chegou o Outono...
Frio, chuva e sono…
Que este poema desperte em nós a consciência e urgência em salvar este nosso Planeta Azul e, assim, o restituirmos aos nossos filhos e netos tão infinitamente belo e habitável como para nós tem sido.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado