Serve este introito para vos dizer que as divergências de opinião quanto ao que desejamos ver na pessoa que representa o nosso clube não é sinal de desamor, é apenas sinal de formas de ser, de estar e de sentir diferentes. Da mesma forma que os Nunos Almeidas das arbitragens me tiram do sério com performances enviesadas, chamemos-lhe assim para não me fugir o pé para o chinelo e ter a tentação de lhe chamar pior do que o simples larápio à moda do Norte que se ouviu no estádio, também a visão apocalítica que alguns querem conferir à troca de ideias, ao marcar de posições, à ironia de alguns textos, ao sarcasmo na avaliação de alguns comportamentos e mesmo a um ou outro ânimo mais exaltado na defesa do que se pensa ser o melhor, num período de campanha eleitoral que já começou sem ter de facto começado, me deixa irritada.
Ser presidente há vários anos significa estar sob escrutínio a toda a hora, nas páginas dos jornais, nas redes sociais, nas mesas dos cafés, na barbearia, no cabeleireiro ou onde quer que seja que se juntem dois adeptos a falar sobre modalidades que os apaixonem. Ser presidente é expor-se, é levar com um abraço apertado quando as coisas correm bem e com apupos quando as coisas correm mal. Ser sócio é questionar o presidente, ser sócio é querer sentir-se valorizado, ser sócio é exigir transparência, ser sócio é querer saber se não estamos a hipotecar o futuro com algumas decisões. Ser presidente é estar aberto ao debate e não fugir constantemente ao frente a frente, aos olhos nos olhos, à coragem de ouvir críticas e visões diferentes.
Ser sócio é ter o direito de querer mudar sem que isso implique fazer um "reset". Podemos ir por outro caminho agora? Um caminho mais claro onde a perspicuidade seja o lema e a ligação à cidade efetiva e plena? Podemos não gostar do modo como o presidente trata os sócios e ansiar mais? Eu creio que sim. Isso faz de mim ingrata, maledicente, mal-agradecida ou o que quer que me costumem chamar quando leem as minhas catilinárias de quinta-feira? Tenho a certeza que não. Faz de mim apenas uma sócia atenta ao clube e com uma opinião vincada sobre o que quer para que o seu clube seja melhor.
Também eu estou sob escrutínio todas as quintas-feiras. Lembrem-se que uma opinião é apenas isso, uma opinião. Tomem o vosso café, continuem a folhear o jornal, comentem com os vossos parceiros de tertúlia que eu tenho muita lata mas tenham a certeza absoluta que ganhe quem ganhar no dia 27 de maio, eu vou continuar como sócia fervorosa a acompanhar o clube que sempre acompanhei desde que as minhas pernas me puseram a andar. Sem cartilhas, sem encomendas e, sobretudo, sem ceder a pressões daqueles que descobriram agora que os jornais locais têm senhoras a escrever sobre assuntos tão costumeiramente próximos do universo masculino e que há quem goste disso.
Autor: Ana Pereira