“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Saiba eu em que te ocupas e saberei também no que te poderás tornar”. - Johann Goethe - pensador e um dos mais importantes escritores alemães e do Romantismo europeu - (1749-1832)
Ponto um - Até parece que caiu o Carmo e a Trindade com as revelações do Luanda Leaks a propósito da “diva” Isabel dos Santos. É incrível como, durante anos a fio, ninguém se apercebeu da cleptocracia reinante e ninguém viu nada de anormal nos “investimentos” angolanos. Eram só sorrisos, muitos cumprimentos e muitas palmadas nas costas. Elegância engravatada nos protocolos das altas individualidades para inaugurar “obras” e, afinal de contas, e sem surpresa, tudo estava fundamentado em podridão e fingimentos, acompanhados com cumplicidade e muito aproveitamento pessoal ou grupal. Ganância e estupidez com fartura. Sem duvida! !
Toda a gente da “elite económica-financeira” nacional assobiava para o lado. E bajulava. Punha-se em bicos de pés para ser visível, tentando cair nas boas graças da filha do ditador. E fazia fila para a cumprimentar. E com sorrisos rasgados. A ela e a outros angolanos. Quer estes já estivessem metidos em sarilhos judiciais ou não. Até os “irritantes” marcelistas tiveram que ser engolidos pelos nossos “maiores” para se evitar contaminações nos negócios e nos investimentos. Tudo somado, a conta dá: hipocrisia, sonsice e pouca vergonha. Ridículos!
Ponto dois - Até há meia dúzia de dias, a investidora angolana, pessoa querida e incontornável no mundo da finança, era recebida, com pompa e circunstância, nos corredores do poder que lhe estendiam a passadeira vermelha como sinal de grande reverência e de maior respeito. Foi agraciada com medalhas de ouro e títulos de toda a ordem. Bastou um “rapazote”, de cabelo eriçado, que por acaso está no xilindró (incompreensível!), talvez por medo dos muitos oligarcas que a rodeavam com floreados, para pôr tudo em pantanas. O império económico da engenheira Isabel ruiu como um castelo de areia num dia de ondulação fraca à beira-mar.
Ponto três - Agora, causa dó ver os “ratos” a quererem fugir, não olhando a meios, do barco naufragado. É o comportamento patológico desta “elite nacional” que detém o poder e nos traça o destino para nosso infortúnio. O país está na mão deles. Triste “elite” que é incapaz de ver uma trave nos seus próprios olhos. Uma “elite” gananciosa que não tem a hombridade suficiente de se penitenciar, assumir responsabilidades e pedir perdão a este povo pelos erros cometidos e consentidos. Povo que se deixa, ainda hoje, enganar por um prato azedo de lentilhas. Os “ratos” de hoje não são os mesmos “ratos” daquele passado recente que nos levou à bancarrota? Com umas nuances? Daqui a uns tempos, lá virão eles de novo, quando a tempestade amainar. E aparecerão cheios de moral e de peito feito. Sem remorsos. Incólumes, limpinhos e muito competentes. Para gerir o nosso dinheiro. Como sempre. Espertos e cheios de “bons amigos” para os branquear e sufragar os seus “pecados” nos momentos certos. E sem justiça!
Ponto quatro - Os canais televisivos ainda não se fartaram de mostrar ao país, e a toda a hora, o principal actor desta comédia: o ex-ministro da Economia Caldeira Cabral. Até dá a ideia que esta figura política, já no estaleiro, é a única que está envolvida no apadrinhamento, nas mordomias e nas bajulações da Isabel e da oligarquia angolana. Não haverá mais nenhum político do governo nestes sketches de mau gosto e de enredo nojento?
Ponto cinco - “A prisão preventiva tem como objectivo silenciar as minhas denúncias. Ainda há muita coisa que os portugueses merecem saber”.- palavras do hacker Rui Pinto. O povo português tem que conhecer todo o enredo desta peça soez que põe em causa a reputação do país. A “lavandaria” - Ana Gomes - esteve demasiado tempo a funcionar e ao serviço da oligarquia económica e da corrupção. Lavou que se fartou.
Perante este espectáculo deprimente, o país precisa de se depurar, de conduzir os seus destinos com dignidade e de se afirmar como um parceiro económico sério e a sério. É inevitável. Esta comandita da partidocracia que açambarcou e se alapou ao poder tem que ser despejada para bem da imagem, da identidade e da reputação deste país secular. E também pelo futuro. Oxalá!
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto

DM
9 fevereiro 2020