Depois de um ano inteiro, a acompanhar, ponto por ponto, com interesse e com atenção os assuntos político-sociais do país, é preciso fazer uma trégua para acalmar os “ímpetos” críticos e deixar que o espírito de Natal irradie com claridade a mente dos eleitos políticos. É preciso que esses eleitos tenham o discernimento e a humildade de descer, temporariamente, à terra, revejam a sua caminhada e questionem a sua acção gestora até para fazer o ponto da situação.
Ponto um - Questões para repensar - Valeu a pena o tempo e o esforço despendidos? Cumpriram-se os deveres de eleito com qualidade? Foi-se sério? Defraudou-se a confiança dos votantes? Ajudou-se a criar melhores condições de vida para todos os cidadãos? E agora, depois de cumprido parte do mandato, será preciso mudar alguma coisa para se conseguir melhores resultados? Questões e muitas questões que se levantam e que implica uma resposta com verdade e com rigor. Com isenção e com sentido crítico. É preciso perceber e tomar-se consciência da nossa intervenção social, política e cultural na construção de um país melhor. Este exercício de avaliação deveria ser feito a todo o momento, de forma contínua e persistente para se evitarem os escolhos do amiguismo, dos pecados das indignidades e das arbitrariedades que surgem a todo o instante na vida pública.
Ponto dois - Ideologia e acção - O país não está bem e não vai pelo melhor caminho. Há ideologia e fanfarronice a mais e acção concreta a menos. Há muita ilusão, muito faz-de-conta e poucos resultados palpáveis. Mudou-se a semântica das palavras e, no final, tudo fica na mesma ou ainda pior. Antes, por exemplo, era a famigerada austeridade diabolizada com impropérios de toda a ordem; agora, são as cativações que se tornaram adocicadas, com sorrisos e com complacências. Prometem-se “surpresas” que irão aparecer a breve trecho para mudar as coisas e, depois, materializam-se em esquecimentos ou em desilusões. Como é costume!
Ponto três - Um Estado depauperado - A vida de muitas pessoas, muitas mesmo, está um farrapo. Sem conserto e sem tino. Ou com pouco ou nenhuma esperança de melhores dias. Contradições de uma sociedade debilitada que se verga aos ditames das elites ideológicas cada vez mais insaciáveis. Na realidade, são os dois milhões de pobres que “enfeitam” uma democracia paralisada e vesga. Pode-se dar as voltas que se derem ou tentar escamotear este fado lusitano. O número arrepia, não só pela crueza dos zeros que o constitui, mas fundamentalmente pela miséria que transporta. Um número que deveria envergonhar uma classe política que se arroga de libertária e que é imbuída de uma prosápia social que enoja. São estes marginalizados, vítimas e figurantes secundários, desta “comédia” assente num sistema político que é e será sempre incapaz de gerar riqueza efectiva e bem-estar para conferir a todos uma vida digna e dignificante, enquanto os políticos não forem responsáveis e responsabilizados. É sabido que essa gente está mais interessada em olhar para o seu próprio umbigo e para o umbigo das suas clientelas do que olhar com sensibilidade e com respeito para os reais problemas do país.
Ponto quatro - Exigir outras condutas - Mesmo neste cenário, triste e surrealista, que se exibe a todo o instante nos palcos da vida, é preciso dar uma trégua natalícia aos actores principais desta peça teatral de mau gosto. É preciso outra estratégia, objectivos mais ambiciosas e uma outra energia. Mais ilusões, mentiras, sofismas, vãs esperanças, entretimentos, não. Já chega de tanta brincadeira. Festinhas e mais festinhas, barracas e barraquinhas, adornadas com mais música pimba, também não. Já chega de tanta zoeira. Porque o tempo urge, é preciso que sejamos inteligentes, perspicazes, rigorosos e fundamentalmente sérios e determinados, para que os políticos sejam claramente símbolos activos e visíveis de modelos de vida congruentes e em linha com os padrões dos países europeus de topo.
Se continuarmos a olhar para os políticos como espécie de gente sem interesse e sem credibilidade não iremos sair deste marasmo. Se os políticos não se derem ao respeito, também serão despeitados. É tempo de sabermos ser, de estar e de agir. É tempo de sermos inteligentes.
Destaque
Se continuarmos a olhar para os políticos como espécie de gente sem interesse e sem credibilidade não iremos sair deste marasmo. Se os políticos não se derem ao respeito, também serão despeitados. É tempo de sabermos ser, de estar e de agir. É tempo de sermos inteligentes.
Autor: Armindo Oliveira