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Ponto por ponto

Depois de cumprido o acto eleitoral legislativo e apurados os resultados é tempo de se reflectir com parcimónia o caminho colectivo que a “esquerda” nos impôs e nos fez seguir a contragosto. A situação político-social que a “geringonça” impingiu neste país é demasiado equívoca e de rumo incerto. Esta coligação oportunista, redutora ideologicamente, formada para a “direita não governar” – palavras do líder comunista – extinguiu-se por exaustão anti-reformista, por incapacidade de resolver problemas de fundo e por não ser possível continuar a festança das reposições (?) de salários e de direitos. Vamos, agora, ver o que nos espera com uma governação minoritária e demasiado arrogante para uma democracia europeia, onde se prevê que os reaccionários do BE e do PCP vão infernizar a “realpolitik” de um partido que se envolveu nos esquemas de familygate, de endogamia e em colocações abusivas da sua militância no aparelho do Estado.

Ponto um - O passado recente, ideal para catapultar Portugal para níveis de desenvolvimento compatíveis com a concorrência, foi muito displicente e excessivamente propagandeado. Gorou-se uma óptima oportunidade de colocar o país na linha da frente e a crescer fortemente. Nada de espantar com os socialistas no poder.

O dr. Costa, contudo, inventou uma nova moda de fazer política: iludir, iludir e iludir. E também uma estratégia económica já marretada: empurrar os problemas inadiáveis para o futuro. Tudo isto acontece numa altura em que os dois indicadores económicos, vitais para avaliar a saúde financeira do país, nos avisam dos potenciais riscos que existem de haver a jusante um problema bicudo: aumento generalizado do endividamento e o défice externo em expansão.

Ponto dois - O PS, como já nos habituou com os seus modus operandi e vivendi, sempre rejeitou entrar nas zonas escuras da sua governação. Preferiu passar o debate para as zonas dos embustes e das ilusões que construiu nestes últimos quatro anos, onde foi bem apoiado pelos “empecilhos” que se fartaram de engolir sapos e outra bicharada intragável. A governação cessante foi o prolongamento disfarçado daquela governação que nos levou ao resgate em 2011. Nada de estranhar, por isso. O enredo montado foi o mesmo e os protagonistas também. A diferença só residiu nas cativações e na cobertura da CS.

Ponto três -Todos sabemos que a política lusa tem tiques de arrogância e de pouca clareza, desenvolvendo-se em ambientes adequados “ao tudo para todos” e à irresponsabilidade. Como temos mais de dois milhões de pobres e com níveis culturais baixos e acríticos, este campo torna-se propício para a demagogia e para o arrebanhamento dos fragilizados do sistema. Como pano de fundo a adornar o cenário, a esquerda, para justificar o injustificável, apresentou em sessões teatrais os horrores cometidos pela”direita” no período macabro da Troika para escapar à tirania da verdade e do rigor. O mundo da Troika, aquele mundo medonho de cortes e indignidades, foi a almofada fofa, criada pelos geringoncistas para esbater as incapacidades de uma coligação que se limitou a construir um modelo irrealista e inconsequente. Se esse modelo fosse congruente teria continuado e sido reforçado. A memória da humilhação está sempre presente e enrola-se em tretas da vinda do diabo e enrodilhada nas metáforas de uma narrativa reciclada do “país está melhor”.

Ponto quatro - A arrogância socialista, inexplicável e excessivamente optimista, por ter conseguido em 06 de Outubro uma vitória de Pirro, estende-se em duas linhas bem claras: a primeira, refere-se ao descarte dos extremistas para uma solução governamental e com azedume dos bloquistas; a segunda considera-se o PS, o único partido a garantir a estabilidade e o bem-estar do país, como se estas virtudes pertencessem ao seu histórico partidário.

Tenho muitas dúvidas que, sem os extremistas, a estabilidade esteja garantida, a não ser que Rui Rio faça o frete e se acomode a ser a muleta de uma política sem futuro.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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20 outubro 2019