Sente-se um ar cansado na gestão autárquica da edilidade. As grandes novidades que basearam a candidatura e eleição de Ricardo Rio no município bracarense estão praticamente esgotadas. Temos hoje um cenário policromático de cores vazias e fingidas. De cores desmaiadas e baças. É tudo um faz-de-conta. Faz-se de conta que existe agitação e uma cidade envolvida em projectos mobilizadores. Faz-se de conta que a cultura popular alimenta uma economia de esplanadas. Faz-se de conta que as festas são manifestações genuínas de uma cultura intrinsecamente secular que congrega e faz explodir o sentir de um povo. Faz-se de conta que tudo corre sobre esferas. Sorrisos há, pelo menos, e uma sensação de júbilo pelas “tarefas” cumpridas.
Ponto um - Objectivos de uma candidatura - O dinamismo das freguesias, a esperança de um futuro melhor e mais concreto para as pessoas; a abertura desburocratizada e ágil dos serviços camarários; a reabilitação urbana; a regeneração do centro histórico; a renovação qualificativa da frota nos transportes urbanos; a conquista de novos espaços de lazer; o incremento da cultura como pólo activo de desenvolvimento, todos estes pressupostos não correspondem, nestes seis anos de poder, às expectativas criadas em torno de um tempo de mudança que era necessário agarrar, expandir e consolidar. O arrojo e a determinação esmoreceram. Posso avaliar, portanto, a gestão deste executivo camarário numa máxima muito peculiar e lacónica para os portugueses: muita parra e pouca uva.
Ponto dois - Juntas de freguesia - Sempre defendi que os presidentes de Junta são parceiros cruciais da Câmara Municipal para amortecer problemas sociais, para dinamizar actividades, para garantir boa e eficiente funcionalidade do poder autárquico, para realização de obras estruturais e necessárias nas suas localidades. As Juntas de freguesia (JF) não podem, de modo nenhum, serem tratados como eleitos de condição inferior e, por isso, pouco ouvidos e menos requisitados para participar na construção de um município melhor. As JF, pelo seu enfoque privilegiado, junto das pessoas e das comunidades locais e pelo serviço de proximidade que prestam, merecem ter um estatuto político de relevância no contexto municipal. Por esse facto, deveriam participar, por direito próprio, na construção da estratégia global para o concelho e no seu plano de desenvolvimento. Com o desmantelamento do GAF - gabinete de apoio às freguesias - as Juntas de freguesia perderam a âncora que assegurava o contacto directo e permanente com as estruturas de comando da edilidade.
Ponto três - Ambiente e lazer - A radicalização do negócio dos terrenos das Sete Fontes tem impedido que o município tenha ao seu dispor uma excelente área de lazer e ambiental. Seis anos depois, não se percebe o impasse existente que obsta um acordo justo entre as partes. Pelo caminho que vai, não chegará o resto do mandato e tudo poderá ficar na mesma. Isto é, vai Ricardo Rio cumprir os três mandatos autárquicos consecutivos que a lei lhe confere e o grande desígnio das Sete Fontes ficará inscrito nas páginas das calendas gregas. Ou seja, nada!
Cada vez mais, o Ambiente é considerado uma área de importância vital para a vida dos seres vivos, para o equilíbrio social e fonte de desenvolvimento sustentado. O homem precisa de ter à sua disposição espaços verdes, limpos e, se possível, organizados para o seu bem-estar e recreio. A cidade de Braga já possui bons espaços naturais na sua periferia. Refiro a mata do Bom Jesus, os montados da Falperra e toda a área do monte do Sameiro. Na parte norte do município, a marginal do Rio Cávado ainda não está totalmente aproveitada, o que é pena.
No perímetro da cidade, temos os campos da Rodovia e o parque da Ponte. Existe, entretanto, um espaço bem dentro da cidade que tem potencial para ser aproveitado pelos munícipes e que hoje está fechado, penso, sem justificação. O jardim e o logradouro do palácio dos Biscaínhos poderia, de facto, ser aberto ao público através de uma abertura que se poderia construir e que o ligava à Rua Andrade Corvo, em frente ao Campo das Hortas. Já existe no local uma área ajardinada. Bastava fazer uma abertura condigna no muro e dotar o seu interior com as condições normais para ser utilizado pelos bracarenses e visitantes.
Ponto quatro - Uma solução inédita - Floreiras de cactos e de calhaus avermelhados. Sem sentido para uma cidade marcadamente verde. A solução encontrada para esconder os tanques da Avenida Central não foi a mais feliz. É certo que esse espaço no coração da cidade estava um “nojo” e precisava de ser valorizado. Agora, aproveitá-lo para servir de expositor e de modelo de uma “paisagem desértica” não lembraria ao mais refinado arquitecto paisagista. Genialidade?!
Autor: Armindo Oliveira