“É por isso que se mandam as crianças à Escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas, sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias”. – Immanuel Kant, filósofo alemão (1724 - 1804)
Ponto um - Ao longo da minha vida docente, nas escolas que leccionei, sempre adoptei, como primeira preocupação pedagógico-didáctica, uma relação professor/aluno amistosa, interactiva e muito táctil. O meu trabalho na sala de aula assentava em três pilares bem solidificados e melhor negociados: autoridade do professor, disciplina dos alunos em todos os espaços escolares e rigor nas aprendizagens. Os alunos sabiam como lidar comigo e conheciam bem as regras. Tudo muito claro. Exigência na sala de aula e brincadeira no recreio. Para os “prender” à Escola eram desenvolvidas áreas complementares como teatro, educação física e actividades diversas. Por isso, a motivação era elevada e o interesse pela Escola era notório.
Ponto dois - Sempre fui um professor respeitado pelos alunos e pelos pais. Sempre fui um professor que se dedicou de alma e coração à sua escola e aos seus alunos. Sempre os tratei como se fossem filhos meus. Esta envolvência fortemente sentida trouxe-me imensas vantagens: não havia stress na sala de aula, os alunos estavam sempre interessados e satisfeitos, as aprendizagens faziam-se estruturadas, o clima da escola era agradável e empolgante e os pais sentiam-se confortáveis e confiantes.
Ponto três - Autoridade do professor - atitude fundamental para definir regras de comando e para exigir comportamentos educados e socializados. Os alunos sabiam que havia do outro lado da sala alguém com autoridade que mediava as aulas, os tempos lectivos e o espaço escolar. Viam em mim um amigo e um líder que estava sempre disponível para os ajudar e para brincar com eles caso fosse necessário. A Escola era um espaço vivo, de respeito e de confiança.
Ponto quatro - Disciplina na sala aula - outra vertente importante para uma aprendizagem efectiva, criteriosa e com sucesso. Os meus alunos sabiam estar na sala de aula. Sabiam estar calados e sossegados, quando era caso disso. Sabiam intervir e sabiam ouvir, tarefa muito difícil em miúdos. Tinham consciência plena do que poderiam fazer e não fazer na sala de aula. Não havia dúvidas nesta matéria. Qualquer aluno gosta de uma Escola disciplinada.
Ponto cinco - Rigor nas aprendizagens - As aulas eram previamente preparadas e todos os dias. Nada se fazia de improviso. Um esquema organizacional alicerçava toda a actividade lectiva na sala de aula e na própria escola. Os alunos sabiam como estava dividida a semana de trabalho e os tempos para cada área curricular. O desenvolvimento do espírito crítico com intervenções contextualizadas e pensadas era trabalhado em cada aula.
Ponto seis - Fico perplexo com as informações, ao de leve, que recebo através da comunicação social ou vindas directamente de desabafos de antigos colegas. Algumas informações são de arrepiar como aquele caso de um miúdo de 12 anos que sovou o seu professor de 63 anos e que no final ainda se gabou de lhe ter “partido o focinho”. O que fez o Ministério da Educação neste caso lamentável? Que se saiba, nada! Era exigível que tomasse posição e inequívoca até para prevenir situações semelhantes e degradantes. O que fez a Inspecção Geral do Ensino? Que se saiba nada! O que fez a CONFAP - Confederação Nacional de Associação de País? Que se saiba, nada! É este apagão, esta irresponsabilidade e este deixa-andar que ajuda a denegrir a instituição escolar. Sei que a falta de respeito pelos professores e a indisciplina assentaram praça nas salas de aula. Estes “pecados” educacionais são hoje incontroláveis. Sei que o stress dos professores é elevado e o recurso a consultas médicas do foro psiquiátrico aumentaram assustadoramente. Estas fragilidades que a Escola apresenta nos dias de hoje incapacitam a sociedade na necessidade de valorizar o sistema educativo, de modo a aproveitar as suas potencialidades para o desenvolvimento social, tecnológico e económico. A autoridade do professor também sai chamuscada e a sua acção formativa, educativa e socializadora fortemente debilitada.
Compete aos pais educar, sem dúvida. Se os pais abdicam intencionalmente desta importantíssima tarefa, a sociedade democrática entra em desequilíbrio e a violência padroniza-se como coisa normal. E de normal nada tem. Um apelo aos pais: eduquem os vossos filhos.
Autor: Armindo Oliveira