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Ponto por ponto

“Nada é tão admirável na política quanto uma memória curta” - John Galbraith, escritor, filósofo e economista americano (1908 - 2006) Ponto um – Sem dúvida! Ter memória curta é uma forma de amesquinhar fortemente a credibilidade, a transparência e a seriedade do regime democrático. É este facto manhoso um dos grandes problemas que afecta em escala maior e com incidência redutora uma certa casta política que se julga impoluta. E o complicado da equação é que não há solução para esta maleita neste país e com este povo. É uma estratégia opaca e indecente muito usada e seguida por quem tem contas, e mal feitas, a prestar aos eleitores e, de um modo geral, aos cidadãos e quer, de todos as maneiras, evitar fazê-lo. Memória curta é um acto de arrependimento, mas sem arrependimento, de vergonha e de manha sem querer assumir essa vergonha e essa manha e que trata todos como todos fossem desprovidos de memória, de inteligência e de sensatez. É uma atitude ignóbil, demonstrativa de irresponsabilidade e de incapacidade em que a mentira tem perna longa. Ter memória curta é enveredar por um caminho estreito no campo da cidadania política que por cobardia e por estupidez atenta contra o rigor e contra a verdade de governações mal conseguidas. Serve, no caso presente, fundamentalmente para escamotear o falhanço governativo no passado recente. Ponto dois – Por mais que se queira contornar esta desvalorização anacrónica da política, os desmemoriados assumem em consciência que a irresponsabilidade existiu e grassou e que é conveniente abafar esse período negro para se tentar reaparecer, mais tarde, com uma roupagem limpa e sem mácula. Depois desta encenação aparvalhada, os falhados reaparecem com uma moral intocável e com um cardápio de ideias inovadoras (reposições, reversões, eliminações) que não se inibem de as exibir como se fossem os salvadores da pátria ferida. Além disso, empolgados por coisa nenhuma, atiram-se ao poder constituído como feras famintas num repasto pastoso e disputadíssimo. Foi este apagão que os socialistas quiseram fazer desaparecer no período de 2005 a 2011. É um facto relevante e indesmentível que o governo socialista de Sócrates conduziu com habilidade Portugal para o abismo. Para a bancarrota. Para os incumprimentos e para a humilhação. As camaradas e os “camarados” não podem nem devem esquecer esta lição governativa que tantas mazelas provocou neste país. Mesmo com memória curta, todos sabemos quem foram os culpados. Eu, pelo menos, não os esqueço. Ponto três – No resgate financeiro de 2011, Portugal sem dinheiro e humilhado pediu ajuda à China, colocando-lhe nas mãos várias empresas nacionais como a EDP e BCP. Os chineses injectaram na economia nacional, através dessas compras, milhares de milhões de euros que contribuíram para se concretizar a saída limpa das garras da Troika. Este acordo luso-chinês espoletou uma onda de indignação e de protestos por parte dos socialistas e dos bloquistas que acusaram Passos Coelho de estar a vender o país ao desbarato. E a narrativa pegou de estaca. Mais uma vez a memória é curta. Agora o investimento chinês é bem vindo, desejado, muito aplaudido e com sorrisos abacocados. O poder instalado bajulou como pedinte o ditador Xi para colocar aqui uns yuans, engolindo todo um discurso e uma prática de “vender o país” ao desbarato. São estas incongruências que ninguém de boa fé compreende. O que era mau e ideologicamente neoliberal para Passos Coelho, agora com o dr. Costa é virtuoso e progressista. Ponto quatro – Passos Coelho endividou o país para números mastodônticos. Os recordes históricos do endividamento eram batidos todos os meses. Era neste argumentário que a esquerda caminhava. Em finais de 2015, a dívida pública estava nos 226 mil milhões de euros. Passos era acusado de ser o destruidor do estado social, dos serviços públicos, do investimento público e de se vergar aos interesses dos chineses e do grande capital. Agora, a dívida atingiu somente 251,1 mil milhões de euros e tudo corre com normalidade. A esquerda, calada como um peto, como se diz na minha terra, consente no contínuo e empolado endividamento e aplaude até este desmoronar das finanças públicas. Porém, o mais engraçado é o argumento do dr. Costa a este propósito: “a dívida pública está a reduzir-se de forma sustentada”. O segredo é este: Pede-se emprestado, não se paga um chavo e a dívida reduz-se. Surpreendente?! Não, de modo nenhum. Tudo à boa maneira socialista! Ao milagre das cativações, agora podemos juntar o milagre da redução da dívida. Que mais virá a seguir: a melhoria das condições de vida? Que fixe!
Autor: Armindo Oliveira
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16 dezembro 2018