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Ponto por ponto

Uma juíza de instrução criminal de Braga decidiu, ontem, levar a julgamento o ex-presidente da Câmara Municipal, Mesquita Machado, e o dono da empresa Britalar, António Salvador, no processo da concessão do estacionamento pago à superfície na cidade Braga.” Diário do Minho, 13/11/2018 Ponto um – Duas simples questões: Houve alguma novidade na decisão sensata desta juíza no caso do negócio do estacionamento à superfície em Braga? Não. Nem pensar! Causou estranheza ou espanto a alguém este procedimento? Também acho que não! Particularmente, regozijo-me com a decisão acertada tomada pela senhora juíza do Tribunal de Braga. Há que pôr tudo em pratos limpos. Sem perseguições, mas com justeza. Sem dilações, mas com justiça. A democracia exige-o e o país merece-o. Ponto dois – Casos destes em que estão envolvidos políticos e autarcas, que se deixaram enrolar nas redes da ilicitude, são ainda perfeitamente normais neste país, apesar de termos um caminho já percorrido de 44 anos de democracia, de aparente transparência e de exigência de rigor na conduta dos agentes políticos. Anormal é haver uma juíza com coragem suficiente e com sentido do dever que quer fazer e aplicar justiça e apurar responsabilidades de quem cometeu alegados ilícitos, indo mesmo contra o parecer do Ministério Público. Ainda bem que existem profissionais briosos nesta importantíssima área da democracia para ajudar a limpar este país de tanta podridão corruptiva, de purgar as teias clientelares e de aclarar os amiguismos que animam os negócios de uns tantos em desfavor dos contribuintes. Ainda bem que existem pessoas que se incomodam com a saúde das instituições. A minha saudação e admiração, portanto, por todos aqueles que não pactuam com actos ignóbeis e pouco claros praticados por quem exerce cargos públicos e que deveriam estar ao serviço das comunidades que os elegeram ou os nomearam. Gente que, lamentavelmente, se comporta de forma pouco digna e responsável. Ponto três – No caso em questão, sempre foram 37 anos a liderar uma cidade, onde as ambições pessoais, o serviço prestado aos “amigos” e o futebol estiveram sempre de braço-dado, quando o exigido era que o autarca ou os autarcas estivessem todo o tempo disponíveis e gastarem toda a sua energia no bem-estar de todos e no desenvolvimento sustentado da cidade. O que se passou nesta urbe bracarense, passou-se, praticamente, em todo o país. Era norma e cumpria-se a rigor o princípio do clientelismo e da opacidade: para os amigos os favores da lei, para os outros os pavores da lei. Ponto quatro – Sinto-me envergonhado e estou positivamente incomodado em ver o meu ex-presidente de Câmara envolvido em mais outra questão jurídica pouco dignificante para um autarca que não tinha necessidade de se expor a estes vexames e que passa também pelo sentar o “rabinho” no mocho. Com este tipo de julgamentos estão em causa o bom nome do município, a confiança dos bracarenses que, durante vários mandatos consecutivos lhes entregaram o seu voto e a boa gestão da edilidade que deveria merecer mais respeito e outro rigor no uso dos dinheiros dos contribuintes. Ponto quatro – É notório que o “mesquitismo” desapareceu da cena política local. Nem os seus camaradas de partido o querem como modelo de gestão e como modelo de prática política. Fogem do modelo “mesquitista” como o diabo foge da cruz. Os efeitos negativos do “mesquitismo” vão sentir-se por décadas. O disparatado estádio da Pedreira é o símbolo máximo deste período autárquico que consumirá durante longos anos largos recursos financeiros que bem poderiam ser aplicadas em melhorias significativas no viver da cidade e do concelho. Ponto cinco – Ricardo Rio tem, no passado recente, no seu antecessor, uma boa lição para evitar meter-se em trabalhos com a Justiça, depois de cumprir os três mandatos autárquicos da ordem e da lei. É bom sair de cena de mãos limpas e de cabeça erguida. É bom ser reconhecido socialmente pelo trabalho sério e competente que desempenhou. É bom ficar com o nome gravado na história da cidade pelos melhores motivos, pela qualidade dos seus mandatos e pela obra feita. É melhor ainda sentir-se bem consigo mesmo e ser considerado um verdadeiro “gentleman” da política local. Para isso, basta dedicar-se e aplicar-se com todo o seu saber nas coisas da edilidade, ser sério e responsável. O resto, paz de espírito, auto-estima, reconhecimento social, até alguma vaidade pessoal, vêm por acréscimo.
Autor: Armindo Oliveira
DM

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25 novembro 2018