Gestão familiar. É disto que se trata por ser uma área crucial. Uma realidade da microeconomia, desprezada ou tida em pouca conta por muitas famílias. Neste tempo marcado pelo colapso artificial da instituição familiar (talvez orquestrada e potenciada pelas ideologias fracturantes), de salários baixos, de uma carga fiscal estrangulante e de ofertas consumistas bastante apelativas, é preciso que as famílias tenham uma atenção redobrada à economia doméstica para se evitar as armadilhas dos endividamentos, dos gastos supérfluos e dos consumos excessivos.
Ponto um - As famílias estruturadas, sob o ponto de vista financeiro, funcionam muito alicerçadas numa boa estratégia de gestão caseira. Alicerçada numa gestão equilibrada, bem acompanhada no dia-a-dia e com índices razoáveis de poupança. As famílias que fazem este tipo de gestão estão mais protegidas e mais aptas a enfrentar e a contornar com sucesso os problemas que, naturalmente, surgem no quotidiano. Além disso, têm outras disponibilidades financeiras e outra estabilidade mental para fazer face às imprevisibilidades. Como resultado do incremento de uma boa gestão caseira, o padrão da qualidade de vida optimiza-se e o bem-estar surge como uma realidade normal que reforça e vivifica os elos familiares entre os seus membros. A tranquilidade e um futuro mais risonho serão a recompensa merecedora.
Ponto dois - Vamos a factos. Uma boa parte das famílias portugueses está terrivelmente endividada. Há quem contraia dívidas para a aquisição de casa e electrodomésticos, para a compra de carro e de outros bens de consumo, como viagens, por exemplo. Produtos estes que, numa primeira abordagem, são considerados sempre necessários para se conferir um outro élan na vida, quantas vezes, uma vida recheada de aparências e vazia. Estas aquisições, quando são feitas em simultâneo, têm custos financeiros avultados e acrescidos que obrigam, muitas vezes, à necessidade imperiosa de se fazer privações e até sacrifícios. Numa palavra: quem se mete nestes “sarilhos” tem que fazer austeridade familiar, usar de sensatez e de inteligência para responder às exigências implacáveis impostas pelos créditos. É preciso muita responsabilidade e consciência para não se entrar em situações de ruptura familiar e de incumprimento financeiro que podem gerar outros créditos que desenvolverão um espiral de endividamento incontrolável.
Ponto três - Os salários, de um modo geral, são baixos em Portugal. A maioria dos portugueses aufere salários mínimos ou médios que não chegam aos mil euros mensais. O mesmo acontece, e para pior, com as pensões de reforma, que são autênticas afrontas a quem trabalhou uma vida inteira. Este é o retrato fiel de um país envelhecido, pouco produtivo e endividado. Este é o cenário triste e enfadonho que temos que aguentar, apesar de estar ainda em funções um governo espampanante e de termos uma geração altamente qualificada, a melhor de todos os tempos (é o que dizem!). Esta geração de ouro ainda não foi capaz de dar o seu contributo de qualidade para se sair da cepa torta. Talvez o caso se explique pela razão do país estar dominado pelas elites partidárias, velhas e esgotadas, e por boys de pouca valia.
Ponto quatro - O desejo capitalista, que toda a gente tem, de querer ter tudo e mais alguma coisa, alimentado pelo lusitano sentimento da inveja, torna-nos vulneráveis e dependentes das ofertas de um mercado altamente sofisticado e selvagem, que nos coloca diante dos olhos produtos mirabolantes que exigem muito dinheiro para os recepcionar. Dinheiro que não existe nos bolsos dos portugueses, mas existe nos cofres das instituições financeiras. E todos sabemos disso. Em campanhas publicitárias, agressivas e requintadas ao pormenor, os bancos aguçam-nos o desejo e o sonho de os adquirir, traçando-nos ilusórios cenários que tudo é fácil de se conseguir. Emprestam dinheiro a rodos e muitos portugueses, “gulosos” e pouco esclarecidos, entram no jogo do endividamento, hipotecando uma vida inteira, em busca, às vezes, de nada ou de coisa pouca. É esta sociedade das ilusões, do consumo ao desbarato e do empréstimo facilitado que o sistema financeiro patrocina e vai construindo, capturando a vontade, os sonhos e o futuro dos endividados.
Ponto cinco - Não aprendemos nada com as lições da história. Não aprendemos nada com os erros. Não aprendemos nada com a vida. Ainda se usa muito, por estas bandas, aquela máxima do “viver não custa. O que custa é saber viver.” E, quando assim é, não há nada a fazer.
Autor: Armindo Oliveira