“Um líder político não pode incorrer em pior erro do que alimentar falsas esperanças que se desvanecem em pouco tempo.” – Winston Churchill
Ponto um – Muita gente anda à deriva na democracia nacional. Esta deriva assenta no facto do cidadão não conseguir perceber bem o funcionamento dos partidos e perceber ainda menos a acção desenvolvida pela oligarquia política. Há um divórcio nítido e radicalizado entre os potenciais candidatos ou eleitos e uma fatia significativa do eleitorado. Esta realidade desagua na apatia, no descrédito e na acentuada abstenção eleitoral que se verifica em todos os actos eleitorais. Este facto deveria fazê-la reflectir seriamente, mas, no final, o que os partidos querem é obter os votos necessários para apanhar esse poder. Quanto à abstenção ser elevada, a oligarquia está positivamente a marimbar-se para isso. A abstenção não a incomoda e não lhe retira o sono. Conseguido o poder, a abstenção, uma das vergonhas da democracia, torna-se, de imediato, um não-assunto.
Ponto dois – A democracia dividiu os cidadãos em duas castas bem específicas e diametralmente opostas: a casta superior e intocável da esquerda e a casta austeritária e insensível da direita, a causadora de todos os males que aconteceram e acontecem no país e no mundo. Tanto uma como a outra têm variantes extremistas que, só a da esquerda é tolerada e até faz, no momento, parte de uma solução governativa muito peculiar e redutora para um país europeu, pluralista e democrático.
Com a contínua derrocada da “social-democracia” na Europa Ocidental e com o desmantelamento da corrente comunista no leste europeu, as linhas políticas mais à direita estão a surgir em força em vários países e já se batem eleitoralmente com os partidos tradicionais.
Ponto três – A tomada do poder pela “tal direita intolerante, xenófoba, racista, etc”, como a tropa da esquerda gosta de a conotar, poder, contudo, legitimado através do voto em urna, está a surgir no cenário político internacional como uma força eleitoral de “respeito” e impor-se até socialmente. Onde isto vai parar, não sei. Este crescimento anómalo e desmesurado deveu-se às más políticas dos governos e aos horrores perpetrados por uma plêiade de políticos da dita esquerda que se deixaram enrolar em corrupção, nepotismo, roubalheira e outros pecados típicos de gente de poucos escrúpulos e sem vergonha. (Temos bons exemplares destes desvios no país). Noutros casos, como na Alemanha e Suécia, dois exemplos da vanguarda do Estado Social e campeões do bem-estar e do desenvolvimento, estão a braços com o avanço das forças extremistas que já não toleram mais o laxismo dos seus governantes, a insegurança do seu povo e os fanatismos religiosos imigrados para os seus países.
A frente radical extremista é uma realidade nos países democráticos e galopa a rédea solta na Europa com força suficiente para se tornar num problema político e social a curto prazo. E não é com geringonças (forças derrotadas nas urnas que roubam o poder a quem de direito) que se desanuvia a situação ou se responde aos anseios e às necessidades das pessoas.
Ponto quatro – A oligarquia da esquerda gosta do pluralismo desde que todos pensem ou digam o que ela quer. A oligarquia da esquerda gosta e vangloria-se de ser a patroa da democracia sempre que ganha as eleições em disputa. Se as perde, diaboliza, de imediato, a saúde do regime e arranja sempre desculpas rocambolescas para justificar o seu insucesso. Na oposição é implacável e insuportável, construindo cenários dantescos e promovendo manifestações patéticas concertadas e em contínuo que desgastam terrivelmente quem governa. A estratégia adoptada por esta esquerda paralisante é a seguinte: se não governa, não deixa governar.
Ponto cinco – A democracia, o regime da transparência, da liberdade, da tolerância, da justiça e do desenvolvimento social e económico tem facetas obscuras ou que causam engulho ao cidadão comum. Vejamos: não se reconduziu Joana Marques Vidal por motivos fúteis (mandato longo e único) só com o objectivo de se retirar do caminho uma profissional “irritante” que dava garantias de equidade na justiça neste país. “Perdoa-se” a atitude irresponsável de um primeiro-ministro que partiu para férias, quando o país se transformava num inferno e onde morreram dezenas de pessoas carbonizadas. Aceita-se um partido que prometeu reposições, eliminações e reversões aos funcionários públicos e agora espalha a ideia que não há dinheiro para concretizar essa promessa. Encobre-se o desaparecimento e reaparecimento de material de guerra como tudo se resumisse a uma simples transição de batatas. E, nesta história (farsa), incrivelmente mal contada, onde os diversos personagens se escondem por detrás de uma cortina diáfana, nada vai acontecer. Estamos no tempo das tretas, das mentiras, dos embustes e da opacidade.
Foi esta democracia que construímos neste país?! Não! Mas, é o que temos.
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto

DM
21 outubro 2018