Sou daqueles bracarenses que gosta de olhar a sua cidade. De a sentir, de lhe perscrutar os detalhes e de descobrir a subtileza arquitectónica das suas fachadas. De entrar nas suas igrejas e de se deixar envolver pela sua frescura e pelo silêncio daquela espiritualidade intrínseca e profunda que nos arrebata.
Ainda se notam nos cantos e nos recantos da urbe uma sensibilidade mística, sensibilidade carregada de história que nos obriga a entrar na linha do tempo e a imaginar como seria o viver dos nossos antepassados. A cidade dos arcebispos tem ainda, ao de leve, estes vestígios, estes encantos e estes mistérios.
Ponto um - A Avenida Central com o ex-libris da Arcada, ao fundo. Edifício simples, mas emblemático. Ponto de encontro de muitos bracarenses.
Algumas notas, entretanto, desta Avenida, outrora chamado Campo de Santana, obra do arcebispo D. Diogo de Sousa, na expansão da cidade. No tempo e pelas imagens que existem, o Campo de Santana era lindo e harmonioso. Hoje, nem por isso. Perdeu qualidade e nobreza. Vivência e delicadeza.
Os jardins estão a precisar de um toque de esmero e de gosto. Os relvados apresentam sinais óbvios de falta de regas e, talvez, de cuidados. O verde esbatido, com algumas manchas queimadas pela secura, causa algum desconforto. Se não estivéssemos na ampla sala de visitas da cidade, tudo passaria despercebido.
Mas, estamos. Por isso, o quadro que nos é dado a observar, não está de acordo com a grandeza espacial da avenida. É preciso tratar este espaço com outra visão e com outra postura. Disto isto, valerá a pena investir na Avenida Central?
Ponto dois - Finalmente, foi retirada a tubagem “sucata” dos dois tanques que ladeiam a “eira empedrada” da Avenida Central. Como está agora, também fica mal. Não tem qualquer graça ver os tanques vazios com aquele aspecto de abandono e logo numa das zonas mais nobres da cidade.
Está assim, talvez por razões de mera incapacidade para lhes conferirem alguma dignidade e proveito. Nesta matéria e se o “gabinete da inovação” da CMBraga não tem ideias, eu avanço com uma, embora já repetida noutro contexto.
Naqueles tanques, poder-se-iam construir duas arrojadas obras-de-arte em reconhecimento e em memória de dois vultos das artes bracarenses do séc. XVIII/ XIX.
Estou a referir-me a André Soares e a Carlos Amarante. Seria um tributo justo da cidade, ainda não pago, ao engenho e talento de tão grandes autores da edificação do património mais valioso que existe na urbe. Um em frente do outro. Era a forma de elevar e de reconhecer o deslumbrante estilo barrroco e do rococó.
André Soares e Carlos Amarante são, de facto, dois artistas incontornáveis da realidade bracarense. Merecem, sem dúvida, serem reconhecidos, publicamente, pela obra que idealizaram e concretizaram.
Ponto três - Pelas palavras de Ricardo Rio depreende-se que a CMBraga está numa situação financeira deprimente e encostada às cordas. A CMB foi, mais uma vez, condenada em Tribunal Administrativo a pagar 20 milhões de euros por obras a mais no Estádio da Pedreira. E no prazo de vinte dias tem que efectuar o pagamento de 4 milhões de euros. E sem apelo nem agravo. Ora, o problema é que nos cofres não existe tal montante.
Como é possível, uma Câmara com um orçamento anual de mais de 100 milhões de euros não tem uma poupança capaz de suprir necessidades imprevisíveis? Eu não compreendo este tipo de gestão. Não é, nem pode ser assim que se governa uma cidade e um concelho. Tem que haver outra estratégia e outra metodologia.
Esta dívida deriva da incúria, da incompetência, da irresponsabilidade do “mesquitismo” que não teve a dignidade de respeitar os bracarenses e administrou este território com leviandade e com oportunismo. As megalomanias pagam-se caro. Quem deveria pagar estes disparates? Eu sei.
Ponto quatro - Edifício da Confiança. Antiga fábrica de sabonetes e de perfumes que deu vida, deu nome, deu emprego, deu confiança, durante muitos anos, à cidade. Hoje, vendida, por quem a deveria defender, mais ou menos, a granel para ser retalhada conforme as conveniências.
Porquê? Talvez, sem motivos reais. Só por meras questões contabilísticas. Será? Para fazer dinheiro e para pagar disparates de obras megalómanas, engendradas por gente pequena, que corroeram os cofres da CMBraga e destruíram grandemente o futuro desta cidade e do seu concelho.
Não fosse o disparate da “Pedreira”, a cidade tinha dinheiro para tudo. E também para a Confiança. Queixumes, revolta, incompreensão?! Por parte de quem? Memórias curtas, não é?
Confiança sem magia e sem alma que se desvaneceu num simples negócio, bem engalanado (?) com discussões dúbias e com posições afincadas de demagogia e de irresponsabilidade.
Autor: Armindo Oliveira