Não aprendemos nada. Nada queremos aprender com os erros que se cometeram ainda há bem pouco tempo. Já esquecemos as agruras do resgate financeiro e as imposições severas da Troika. Vivemos durante quatro anos amarrados a um caderno de encargos de constrangimentos e de austeridade que levou o país a fazer enormes sacrifícios para aceder aos mercados financeiros e sair da humilhação. Com cortes nos salários e nas pensões. Com dificuldades acrescidas nas famílias e com perdas na qualidade dos serviços públicos. Com emigração e com desemprego. Com revolta e com incompreensão. Mas, no final, não aprendemos a lição.
Ponto um – Está tudo a voltar ao tempo dos delírios socialistas. Era expectável. Aumento da despesa pública e os custos com a dívida a disparar. Os estalinistas e os trotskistas pressionam um Governo que, por si, quer aumentar salários e pensões. O dr. Costa prepara um orçamento eleitoralista, claro. Somos assim. Pouco exigentes e muito displicentes. Levianos e estroinas. A memória curta permite-nos navegar no mar encrespado dos incumprimentos e surfar nas ondas das ilusões.
Sem responsabilidade e sem consciência. O futuro pouco interessa. Importa é viver o presente, e com intensidade, mesmo que seja à custa dos outros. Assim, talvez seja melhor. Os outros, nem se conhecem, que paguem os excessos e os disparates. Eu, pessoalmente, já “contribuí” com milhares de euros por causa da irresponsabilidade, das asneiras e dos desvios dos socialistas na bancarrota de 2011. Não quero voltar a contribuir para este peditório. Basta!
Ponto dois – O consumo nacional. Uma boa parte dele é feito à custa de produtos importados e caros. Consumo que está muito além das nossas possibilidades financeiras e muito distante da capacidade produtiva da economia. O assunto é sério e requer preocupação e acompanhamento apurado por parte dos agentes políticos da governação para se evitarem males maiores. Dá a ideia que os governantes se sentem bem e confortáveis com tanto consumo importado, pois gera impostos e gera ilusoriamente crescimento económico. Só que, em contraponto, gera também endividamento do país e das famílias com a consequente destruição de poupança. Num futuro, próximo poderá chegar a recessão. É isto que nos espera, se não houver juízo.
Ponto três – Bom senso e leviandade. Um bom número de portugueses não tem a real dimensão da necessidade de se usar com justeza o bom senso. Por isso, recorrer ao crédito, com a maior facilidade do mundo e sem responsabilidade, é normal. Neste país, tudo é normal. Em democracia, tudo é normal. O endividamento descomunal é normalíssimo. Além disso, faz-se jus à excelente e incontornável teoria económica de Sócrates: “as dívidas não são para serem pagas, mas para serem geridas”. E, assim, com esta narrativa fica tudo dito e bem assimilado.
Os endividados não querem ter a precaução necessária, nem a modéstia suficiente para se prevenirem da potencial bolha imobiliária que está em fase de grande fermentação. Há avisos directos e inequívocos neste sentido feitos por especialistas na matéria. O jornal “Público” faz manchete no dia 17 de Setembro com o título: “Bancos ignoram regulador (BdP) e aceleraram no crédito de risco”. Este título é explicativo e arrasador. Mas, ninguém liga nenhuma.
Ponto quatro – Vamos a números: o crédito para compra de automóvel subiu, em Julho, 17,3% em termos homólogos, atingindo o montante gigantesco de 283 milhões de euros; o crédito para consumo pessoal subiu 8,7%, elevando a fasquia para 234 milhões. Espanto! Nem por isso.
Para compra de casa, os bancos voltaram abrir os cordões à bolsa, apesar dos avisos velados do Banco de Portugal, instituição que tem sido impotente para travar a corrida aos balcões do dinheiro fácil. Os empréstimos para aquisição de habitação somaram o ano passado 8259 milhões de euros, um crescimento de 327% em relação a 2012, ano em que a troika impôs severas restrições ao crédito.
Só no mês de Julho do corrente ano, os bancos libertaram 919 milhões de euros, montante incomportável para uma micro economia como a portuguesa. Contas feitas, são mais de 40 milhões de euros por dia que os bancos colocam nas mãos de alguns portugueses. Muito dinheiro, não é?! E tem que ser pago.
Ponto cinco – Mais consumo pressupõe mais créditos e, obviamente, menos poupança. É isto que está a acontecer a este país. Um país exaurido e extremamente endividado. E sem poupança não há futuro, pois vive-se no imediato. O tempo é de gastar. Claramente! O consumo representa uma boa parcela do crescimento económico, tão vangloriado pelo dr. Costa. Todos os dias, entra na economia nacional 40 milhões de euros de consumo. No final, há um país para governar!
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto

DM
7 outubro 2018