Ésempre reconfortante dar uma olhada, mais ou menos atenta, pela urbe bracarense. Vale a pena, descontraidamente, calcorrear as suas ruas, apreciar o desenho das suas praças, fincar os olhos no seu património construído, deixar a mente vogar no emaranhado da sua história.
Vale a pena recordar figuras, umas grandes, que marcaram um tempo e reflectir no que seria a cidade se os seus interesses estivessem sempre em primeiro lugar. A cidade merece que nos debrucemos um pouco, de forma criteriosa e crítica pelo que está sendo, agora, feito nestes mandatos (um cumprido, outro em execução) de Ricardo Rio.
Ponto um – Depois de um longo período de 37 anos dominado pelo “mesquitismo”, modelo autárquico exausto, velho e apodrecido, com a vitória inequívoca e contundente da coligação “Juntos por Braga”, em 2013, a esperança encheu a alma dos bracarenses e fez raiar uma outra luz para iluminar um caminho que se mostrava, agora, escorreito e promissor. Desabrochou, com naturalidade, um novo sentir e um outro alento na vida na cidade e no concelho.
Criaram-se outras dinâmicas, dinamitaram-se barreiras cristalizadas pela arrogância de um poder gerido de forma absoluta e tentou-se dignificar a função autárquica com posturas sérias e responsáveis. Elevou-se a fasquia da exigência dos eleitos e deu-se oportunidade para as pessoas se envolverem nas coisas da sua cidade.
A transparência em todos os actos de gestão veio ao de cima. A vitória de Rio foi uma lufada de ar fresco nos corredores bafientos daquela CMBraga emperrada e forrada com megalomanias que deixaram um rasto de desperdícios e de contas mal feitas. Este cenário de mudança era o que estava hipoteticamente na matriz ganhadora. Mas, como em tudo na vida, uma coisa são as pretensões, outra, bem distinta, são os resultados.
Ponto dois – O tempo mesquitista não pode ser esquecido, nem colocado nas notas de rodapé da história desta cidade, porque é sempre preciso tê-lo como contraponto para nos fazer aperceber dos erros e dos abusos que se cometeram a coberto de uma pretensa democracia que se deixou capturar pelos interesses grupais em detrimento do seu saudável desenvolvimento. Espera-se que o actual presidente faça boa nota do passado recente, já que foi um crítico severo desse tempo, e retire as ilações convenientes, para que a sua passagem pela edilidade seja marcada pela sensatez e por um trabalho responsável e sério.
Ponto três – Esta onda gigantesca de optimismo que se formou em 2013, nascida da vontade inabalável de se alterar o paradigma de arrogância com bom uso no tempo, foi-se diluindo, pois, deixou-se envolver pela corrida frenética e demasiado expositiva dos seus agentes políticos que não tiveram o discernimento suficiente para conjugar as necessidades prementes de uma cidade amarrada a berbicachos com os legítimos interesses de uma população que aceitava os factos consumados como coisa perfeitamente natural e democrática. Aqui se pode encaixar o nepotismo em constante aplicação ou a partidarite crónica que só reconhecia os seus pares para se sentarem na mesa das prebendas. Os outros, nem cheiravam as benesses do poder.
Para resolver a escassez de oferta cultural, propuseram-se inovadores artificialismos “culturais” como forma apressada de mostrar serviço a qualquer preço. Surgiu com toda a naturalidade um cardápio encenado e materializado por “festas e festinhas” com montagem e desmontagem de “barracas e barraquinhas” para marcar o ritmo de uma cidade que se queria projectar para o exterior e deixar a ideia peregrina de grandes mudanças que iam sendo feitas no que concerne à participação cívica das suas gentes.
Ponto quatro – Durante um tempo, falou-se demais de uma cidade que em tudo seria inteligente, conceito pomposo e anglicizado de “smart city”. Ainda tenho bem na memória: até os caixotes do lixo seriam inteligentes. Tudo seria inteligente nesta cidade. Esta febre foi sol de pouca dura. Agora, o conceito foi arrumado, ao que parece, até que surja nova vaga de spots de um tipo de urbanismo muito prafrentex.
Talvez possa aqui adequar-se como coisa inteligente os implantes dos pilaretes que vão enfeitando algumas ruas do casco urbano. Estes pilaretes são, numa primeira abordagem, uma manifestação de incivilidade dos condutores de viaturas que em jeitos de falta de respeito atentam contra as normas do Código de Estrada ao estacionar as suas viaturas em cima dos passeios destinados a peões.
Esta transgressão é muito fácil de resolver, pois, para este efeito, não faltam na cidade agentes da polícia municipal que através de multas poderão contribuir para a fluidez de trânsito nas artérias da cidade. Desta ou de outras formas mais sofisticadas e mais estudadas atiravam-se os pilaretes para as prateleiras das inutilidades.
Tudo, no final, é uma questão de bom senso, de educação e de civismo. Ou não será?!
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto
DM
30 setembro 2018