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Ponto por ponto

Eu gosto da cidade da Braga. Gosto de a sentir e de a apreciar. É ponto assente. Não vou entrar, por isso, em metáforas floridas ou em adjectivações ataviadas para caracterizar a agradável cidade dos arcebispos, porque esta urbe bimilenar não precisa dos meus encómios. A sua história, a sua essência e os seus construtores ao longo dos tempos falam por si. Já em tempos recuados e bem recuados, era uma cidade importante que se impôs no império romano.

Ponto um - Avançando, agora, para o campo da realidade autárquica do momento. É este o meu propósito. O actual executivo camarário, em vigor desde 2009 e que tomou o poder absoluto, depois de 37 anos de mesquitismo, não só o conquistou por mérito próprio, mas também por insipiência de um partido derrotado, frágil e dividido por lutas internas, conseguiu tornar irrelevante toda e qualquer oposição no contexto concelhio.

Reconheço que o executivo em funções tem-se esforçado para criar melhores condições de vida para os bracarenses, de modo a alterar o modelo de desenvolvimento citadino. Desenvolvimento que se queria que fosse, enfim, mais sustentado e mais amigo das pessoas. Se era esta a intenção do executivo, não me parece que o vá conseguir devido à estratégia adoptada. Brinca-se demais com coisas sérias. Cansam-se as pessoas com coisas pouca substantivas. E em política isto paga-se caro e logo neste tempo de maior abertura mental e de uma envolvência cívica mais significativa na vertente da cidadania.

Olhando bem para os dois mandatos de RRio, noto que, alíneas do paradigma cultural incrementado por esta Câmara Municipal, seguem muito em linha com a capacidade de gerar movimento, ruído e muito aparato nas zonas nobres da cidade, quer a nível de montar e desmontar barracas e barrinhas, quer a nível de propostas muito vocacionadas para a diversão. Esta não é a melhor forma de colocar a cidade nos radares dos grandes eventos culturais e dos grandes investimentos que se vão fazendo em Lisboa e no Porto.

Ponto dois - O líder da edilidade ainda não percebeu que os bracarenses começam a ficar fartos de tanto ruído e de tanta brincadeira. Os desabafos que vão sendo escutados nos locais públicos e as críticas que vão sendo publicadas em artigos de opinião no Diário do Minho são demonstrativos de um certo mal-estar e de algum cansaço.

De facto, a Avenida Central e o desgraçado Campo da Vinha tornaram-se, abusivamente, os estaleiros das actividades lúdicas e dos negócios de rua. A CMBraga tem que saber que estes espaços não lhe pertencem por direito nenhum. Estes espaços são públicos. Ou seja, são de todos e não de alguns. Por isso, o sossego das pessoas merece ser respeitado em todas as suas vertentes.

Ponto três - Se a Câmara Municipal quer impor um cardápio de “festas e de festinhas” pode fazê-lo, desde que não perturbe sistematicamente a vida das outras pessoas que desejam viver em paz e sossego. Para isso, eu dou uma sugestão que penso ser bastante equilibrada e viável sob o ponto de vista da sua utilização. A CMBraga pode construir, em terreno próprio, o seu “Festódromo”, espaço criado de raiz e vocacionado para fazer muitas festas e com muito pagode.

O espaço físico existe para este efeito e penso que se enquadra às mil maravilhas para cumprir os objectivos do gabinete de festas. A inacabada e degradada piscina olímpica, junto ao Estádio da Pedreira, uma vez adaptada, seria o local ideal para este fim. Os custos de investimento não seriam assim tão avultados.

Além disso, aproveitar-se-ia uma estrutura que está no mais completo abandono e sem hipóteses de ser reconvertida em coisa alguma, numa área que pode ter um grande potencial de diversão e de agitação social e cultural.

Ponto quatro - Para terminar, o “jardim dos pilaretes”, como o meu bom amigo Narciso Mendes o apelidou. Estes enfeites cilíndricos que vão aparecendo semeados já em algumas ruas do casco urbano, é um tema a ter em conta para lhe tecer uns bons comentários, mas ficará para uma outra oportunidade.

Completarei este “Ponto por ponto” com uma breve referência à maioria absoluta que Ricardo Rio tem à sua disposição. Era bom que a soubesse preservar e que lhe fizesse bom uso com proveito óbvio para o bem-estar das pessoas, para a cidade e para o concelho. O anterior edil, depois de tantos e tantos anos à frente dos destinos do município, saiu, no meu ponto de vista, sem honra e sem glória. O que é de lamentar.

Não queira o actual líder da CMBraga que lhe aconteça a mesma coisa. Por isso, muita sensatez, exigência pessoal, determinação e suficiente honestidade são precisos para se poder sair em grande. E é sempre bonito, na hora da partida, deixar saudades e reconhecimento pelo trabalho meritório que foi desenvolvido nos seus mandatos. É reconfortante, sim, senhor Ricardo Rio!


Autor: Armindo Oliveira
DM

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2 setembro 2018