É muito fácil ser poder em Portugal. Então com maioria absoluta é maravilhoso. E, se houver uma oposição apagada, ausente e subserviente do tipo Rui Rio a ajudar, a festa geringoncista é total. E tendo ainda como enfeite a parceria de um Presidente da República que vai alinhando no jogo, a festa atinge níveis de arromba. O povo, este, participa no fogueteiro, recebendo, ficticiamente, como prémio uns míseros euros por mês, que lhe é surripiado logo a seguir, através dos impostos indirectos. E assim o cenário fica bem composto, deixando transparecer, no vazio da sustentabilidade, uma imagem sorridente e empolgante. Que o digam as sondagens!
Do estado de euforia à arrogância, das baboseiras, à irresponsabilidade são pequenos passos. Portanto, tudo junto e com os dois ingredientes reunidos (maioria parlamentar e inexistência de oposição) os homens do poder e seus acólitos, BE e PCP, partidos perigosos para o regime, tornam-se os donos disto tudo, o que é péssimo para a qualidade da democracia e para a eficiência das instituições e dos serviços.
Enfim, deter o poder em terras lusas é ter a capacidade de controlar e dominar toda a máquina que sustenta o regime e sempre com um sorriso cínico no rosto. O seu campo de acção estende-se ao longo de uma superfície bem polida que vai desde o incremento de medidas básicas até às grandes decisões. Estas são sistemática e estrategicamente adiadas por motivos de compromissos coligativos e por imperativos ideológicos desta esquerda arrogante.
Ponto um - Quando um partido agarra o poder, mesmo que seja pelas vias travessas, a medida prioritária que toma é colocar em todos os órgãos políticos, em todos os serviços e em todas as instituições os seus militantes ou apaniguados como forma de controlar tudo e todos e abafar em caso de necessidade os berbicachos que possam eventualmente aparecer. A dança dos lugares na administração pública com a nomeação de “boys” para lugares importantes do Estado, tão real nas mudanças de governo, faz-se ao ritmo dos interesses do partido ou dos partidos que usam o poder, para seu próprio benefício e não para benefício do país. Este governo, por exemplo, com justificativos pouco claros e explícitos, já reforçou, certamente sem necessidade, as equipas ministeriais com cerca de trezentos “quadros” do partido que vão gerar um custo financeiro acrescido de 65 milhões de euros anuais. Para pagar estas nomeações há dinheiro, mas para resolver o vergonhoso caso das urgências pediátricas do Hospital de São João já não há. É isto que causa engulho e incompreensão. Serão estas as políticas tão propagadas desta esquerda nacional?
Ponto dois - Ainda no tocante a nomeações, penso que sempre abusivas, temos bem presente as críticas contundentes e ferozes desencadeadas pelo pivô trotskista do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, contra o governador do Banco de Portugal que só pararam de se ouvir, quando o dito cujo esquerdista conseguiu ser contratado, numa imposição contra-natura, e sentar-se no gabinete da referida instituição bancária. Temos bem presente também as alterações que se fizeram na Protecção Civil o ano passado, em cima da época dos fogos, com as consequências trágicas que o país viveu e lamentou. É ponto assente que a democracia lusa tem estas características bem estranhas e entranhadas no seu sistema político: ser demasiado partidária, controleira e com um nepotismo instalado nas cúpulas que asfixia o aparecimento ou a requisição dos melhores cérebros para exercerem com qualidade cargos públicos de nomeada.
Ponto três - Outros poderes. A vez das Juntas de freguesia. Estas instituições políticas nunca deixaram de ser os parentes pobres da política. Com executivos, muitas vezes, pouco esclarecidos, com défices culturais assinaláveis e com visão estreita de futuro, limitam a sua acção global a passar atestados de residência, a cobrar taxas de cemitério e a passar licenças para canídeos. As limitações de fazer mais alguma coisa são assinaláveis, assim como a capacidade de avançar com propostas mais arrojadas.
Os orçamentos diminutos que recebem anualmente não são suficientes para desempenharem uma função compatível com a necessidade de prestarem um serviço público de proximidade com qualidade. Por isso, são “obrigados a mendigar” junto das Câmaras Municipais mais uns reforços de verbas para esta ou para aquela obrita. Se for da mesma cor política, o caminho fica mais livre e escorreito. Se não for, o caso complica-se e surgem obstáculos de todo o lado. Contudo, reconheço que, nos últimos tempos, o poder local situado nas Juntas de freguesia deu um salto qualitativo no serviço que presta e na acção política que desenvolve.
(No próximo artigo, farei uma abordagem sucinta ao poder nos municípios e às jotas).
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto
DM
26 agosto 2018