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Ponto por ponto

Os meus trabalhos são publicados, ou, melhor, têm sido publicados no D.M. ao Domingo. E como este Domingo é dia de eleições legislativas, a minha reflexão não segue o rumo habitual, devido ao facto da incerteza dos resultados que serão apurados mais tarde para definir a formação do governo nacional e o arranjo partidário na Assembleia da República. Daí, tratar de outros assuntos que, penso, também são pertinentes no contexto actual.

1 - Convém, entretanto, referir que os meus artigos são trabalhados com afinco, com cuidados redobrados e com a máxima lisura e clareza. São sujeitos, na sua elaboração, a muitas consultas nos sites da especialidade para evitar erros grosseiros ou apresentar dados mentirosos e a uma ponderação bastante criteriosa e cuidada. Reflectem estes trabalhos, obviamente, o meu sentir, as minhas vivências e a minha percepção político-social no momento.

Nunca aluguei as minhas “magras capacidades” para a escrita e nunca estive a soldo de quem quer que fosse. Já fui abordado por várias vezes para escrever acerca deste ou daquele tema, acerca desta ou daquela pessoa, mas sempre recusei fazer esse papel de barriga de aluguer ou de vender a alma ao diabo. Nunca fiz esse serviço. Nem o farei. Acho isso indecente, indigno e indecoroso. Não sou avençado. Nada recebo nada de contrapartidas pela minha participação. Só escrevo o que me toca, o que me sensibiliza, o que me incomoda como cidadão deste país fabuloso que não consegue virar a página da mediocridade. As páginas da pobreza e da dependência. As páginas da arrogância e da auto-gabarolice.

2 - Sinto que é uma tristeza termos um país verdadeiramente ímpar e com condições naturais também ímpares com duas velocidades, pelo menos. O país do Litoral e o país do Interior. Ou, sendo ainda mais redutor nesta abordagem de que “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. Não há razões para isso acontecer. E só acontece, porque a classe dirigente é simplesmente anódina, indigente e palavrosa. É incapaz e ilusória. É uma classe que sofre, além de tudo, de amnésia selectiva, de irresponsabilidade e de falta de respeito, perante as sucessivas promessas que faz com todo o desplante para descrédito e revolta das populações. Então, em tempos eleitorais chega ao ponto máximo da demagogia. “É agora que isto vai mudar” - dizem uns. “Vamos investir milhões e isentar ou atenuar de impostos a quem for trabalhar ou viver para essas zonas “amaldiçoadas” - dizem outros. Falam em milhões como fossem tostões. No final, e como se sabe, tudo fica na mesma: o despovoamento continua a galopar, os investimentos não se concretizam, as ilusões já não iludem ninguém e o desânimo, por arrasto, toma posse da vida desse povo tradicionalmente esquecido e abandonado à sua sorte.

3 - Outro assunto que me indigna relaciona-se com a treta, com as mentiras, com os embustes da “geração mais qualificada de sempre”. Como é possível desperdiçarmos este potencial qualificativo, académico, tecnológico e cultural que, dizem eles, abunda no país? Porque, é que, se continua a debitar esta “mistificação estupidificada”, quando sabemos que as portas para a emigração estão escancaradas? Não será triste ver essa “massa energética pujante” a sair do país aos magotes para criar riqueza noutros países que lhes conferem outra esperança e um outro futuro? A treta da geração mais qualificada de sempre não passa disso mesmo.

4 - Por último, as sondagens. Sem minimizar a valia (?) e as preocupações das tentativas de rigor que as empresas de sondagens querem imprimir a estas pesquisas de opinião, a verdade é que os resultados obtidos reflectem assimetrias notórias que parece trespassar para o exterior, por vezes, como encomendas para influenciar a tendência ou a predisposição do eleitor. O caso da eleição para a Câmara Municipal de Lisboa, difícil de explicar segundo os peritos em sondagens, atesta bem a ambiguidade e a falibilidade destas recolhas de opinião que coloca, neste caso, de sobreaviso os políticos e a justeza dos inquéritos.

Estamos agora a assistir a um jogo televisivo, diga-se, um pouco rocambolesco da divulgação diária dos resultados das sondagens obtidos através de uma amostra com pouco mais de uma centena e meia de entrevistas que me parece pouco representativa, para se poder extravasar uma ideia definida, concreta e abrangente em todo o território nacional. Talvez se insira mais na captação e no aumento de audiências televisivas, do que propriamente estabelecer uma correlação de rigor e de seriedade ao estudo. Daí, haver muita gente que dá importância relativa e pouco crédito a estes estudos, sendo simplesmente matéria para emular, enfraquecer ou empurrar os contendores. E a verdade é que a sua influência nas alterações no sentido do voto, para cidadãos menos preparados pode ser real, o que contamina, naturalmente, o processo eleitoral.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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30 janeiro 2022