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Ponto por ponto

O meu amigo Zé é um socialista da linha “sol na eira e chuva no nabal”. Para ele, o socialismo é o píncaro da democracia. É a salvação dos países, do bem-estar e da justiça social. São “as manhãs que cantam”. Para ele, socialismo é isso mesmo: distribuir, preocupações sociais, defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, serviços públicos - Educação, Saúde, Justiça - de alta qualidade e de borla, claro. Tudo à borla e em abundância. Tudo público. Pobreza, dificuldades e desigualdades em socialismo não existem, nem podem existir.

Daí, três perguntas surgirem de imediato:

Quem não defende e não apoia este pacote de quereres?

Onde buscar os recursos financeiros para suportar estas “legítimas” aspirações?

Tamanho volume de despesa estrutural será sustentável a qualquer prazo?

Ponto um - Portugal é, hoje, um país frágil e muito desigual socialmente. Ao primeiro choque de dificuldades, a economia ressente-se imediatamente, como aconteceu agora com a pandemia. A verdade é que uma economia pequena e dependente como a portuguesa não gera riqueza suficiente para satisfazer as “utopias” do amigo Zé. Ainda por cima, as finanças públicas estão demasiado esburacadas. Com um rombo infernal. A carga fiscal asfixia os contribuintes e as empresas. Os investimentos de monta não aparecem. Com as empresas endividadas e descapitalizadas e com 21,1% dos trabalhadores a receberem salário mínimo não são incentivos ideais para o aumento da produtividade. A pandemia ainda complica mais o problema. A crise política, criada pelos extremistas e nesta altura de pandemia e da aplicação da “bazuca”, também contribuiu para o cenário nebuloso que se instalou neste “Cantinho”. Por aqui, por este país maravilhoso, qualquer oscilação política torna tudo muito complicado e nebuloso. Instala-se o pântano, enfim, que parece ser o habitat propício dos socialistas, onde se movimentam bem.

Será que estamos condenados a viver “na rudeza de uma austera e vil tristeza”?

Ponto dois - Os socialistas, de um modo geral e por razões ideológicas, nunca perceberam a situação nacional, com a excepção fugaz de Mário Soares na tomada de posse do segundo governo Constitucional, em coligação com o CDS. Este político, logo em 1978, consciente das debilidades nacionais e das fantasias do seu partido “meteu o socialismo na gaveta” e por lá ficou hibernado por muitos e bons anos. Foi durante esta hibernação socialista que o país cresceu e se desenvolveu. Voltou a ser competitivo e entrou no pelotão da frente. A partir de 1999, o país entrou na longa fase da estagnação económica e social, não tendo argumentos e capacidade para ombrear com os nossos parceiros da UE. Mesmo aqueles países da nossa igualha, que vieram em 2005 “feridos” do Leste comunista, nos passaram à frente e continuam em boa aceleração económica e social.

Ponto três - O amigo Zé não se cansa de debitar desejos. Agarra-se, agora, à esperança de um dia ver o seu “nabal” a ser abençoado com a chuva e a sua “eira” a receber o aprazível sol.

Com o assalto ao poder pela esquerda em 2015, o amigo Zé via nos homens e mulheres escolhidos pelo dr. Costa como o melhor governo de todos os tempos e capaz de resolver os grandes problemas que estavam à mostra na mesa posta por Passos Coelho. O amigo Zé é daqueles socialistas que não tinha e ainda não tem pejo em acusar Passos Coelho e a “direita” de todos os males que se abateram sobre Portugal. Também é daqueles tais que defende com unhas de leão que nunca houve bancarrota, mas sim uma crise internacional que levou o país ao resgate financeiro. Mesmo neste ponto, a culpa recai, mais uma vez, sobre Passos Coelho. Pensa o amigo Zé que a malta anda a dormir na forma e não sabe como se conta a história que há-de chegar ao futuro, escrita a negro, como um dos momentos mais tristes da democracia nacional.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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2 janeiro 2022