O que se passa no momento com o PSD é um fenómeno político difícil de se entender. Com o país a precisar de uma linha de rumo coerente para resolver intrincados problemas que se foram acumulando por ineficácia de uma coligação anacrónica e com um governo que só soube semear propaganda e de impregnar de fantasias o viver deste povo, o grupo de Paulo Rangel, numa jogada perfeitamente anómala e incompreensível, entra numa discussão de liderança, quando o necessário seria apelar à união de todos, envolver toda a militância e simpatizantes para dar a volta à situação política que estagna o presente e retira as esperanças para um futuro mais digno e promissor.
Ponto um - Em vários artigos publicados no “meu espaço” semanal do DM critiquei asperamente a forma de Rui Rio fazer oposição. De facto, Rui Rio não fez oposição. Tinha tudo para fazer oposição. Via o país a afundar-se no ranking do desenvolvimento social a nível europeu e nada dizia. Via a dívida a aumentar e nada dizia. Via os impostos atingir o ponto máximo de confisco e nada dizia. Via os extremistas a quererem manipular a sociedade nacional e nada dizia. Foi demasiado brando, benevolente até, permitindo que o dr. Costa governasse a seu bel-prazer. Escondeu-se sempre o líder da oposição num argumentário fácil de se propalar, mas insuportável em democracia. A oposição tem estatutariamente um papel muito importante na fiscalização dos actos governativos. De propor outros caminhos, de pressionar o poder para inverter o sentido tomado. Além disso, a oposição tem que estar devidamente preparada para assumir as suas responsabilidades no caso de queda de governo ou de outras situações complicadas na vida do país. O governo caiu e o PSD está a definir a liderança. Isto não bate certo. No meu ponto de vista é um absurdo.
Ponto dois - O governo caiu, efectivamente. Caiu por desgaste, por incapacidade e porque aquela coligação “coesa, maravilhosa, predestinada”, enganou-se na viragem da “página da austeridade”. Virou para a página do empobrecimento do país. Para a página do atraso social. Os parceiros de ontem, PCP/PEV e BE, sempre certinhos nos momentos certos, mas muito teatralizados nos momentos solenes para fazer passar a ideia que discordavam nas assinaturas dos documentos, falharam na aprovação do Orçamento para 2022. Falharam por estupidez e por demagogia. Criaram uma crise política completamente desnecessária e extemporânea. Até o Presidente da República se juntou à ribaldaria com “ameaças” fora do texto, no caso, de chumbo, de haver a dissolução do Parlamento.
O PSD, em vez de cerrar fileiras para mudar o sentido do descalabro geringoncista, espoletou uma luta interna para arranjar maneiras de perder esta oportunidade soberana de mudar o que tem de ser mudado. De dar outro sentido à política e outra esperança aos portugueses. Portugal tem um governo gasto e sem rumo que não pode e nem deve continuar nos comandos do país.
Ponto três - Critiquei com severidade Rui Rio por ser mole na oposição. Uma coisa, no entanto, é estar na oposição, outra coisa e bem diferente é ter pergaminhos para liderar o país. Hoje, porém, penso que Rio será o homem certo para ser Primeiro-Ministro. Tem, de facto, qualidades que o avalizam e que o credibilizam para esta função. É um político rigoroso, corajoso, capaz de cativar os votos ao centro. É um homem sério. Um homem com garra. Não é manhoso. Tem perfil, tem imagem, tem atributos para ser um excelente Primeiro-Ministro neste tempo de desnorte nacional. Rui Rio deveria merecer por parte do PSD esta oportunidade de se afirmar como líder numa governação que se quer competente, inadiável e progressista.
Se eu fosse militante do PSD daria a minha confiança a Rui Rio. Sem dúvidas!
Autor: Armindo Oliveira