Os líderes mundiais estão completamente pifados. Não atinam com o norte e nem se entendem a sul. Não sei se as alterações climáticas os está a afectar a poente ou se o mundo está mesmo de pernas para o ar lá para os lados do nascente. Enquanto este jogo de desnortes não se ajusta, o mundo continua a vociferar e a ameaçar, às vezes em pânico, ao que parece, e por todos os lados. A Coreia do Norte a exibir os seus mísseis e o Japão e Coreia do Sul a preparar a defensiva. A China a querer abocanhar Taiwan e os EUA a meter bedelho, como amigo, no “conflito”. A Rússia e a Ucrânia em constantes amuos. Os islâmicos radicais não dão sossego.
Ponto um - O vírus arrasou. O bicharoco, vindo dos confins do Oriente, insignificante e inútil à primeira vista, deu cabo disto tudo. Destruiu as economias e deprimiu as pessoas. Alterou os seus modos de vida e comprometeu o futuro. Causou danos nas rotinas do quotidiano e tornou-as praticamente irrecuperáveis. Isto numa altura em que toda a gente corria freneticamente à procura do nada. Como baratas tontas. E, de repente, tudo mudou. O medo instalou-se agressivamente. Muito medo implantado nos rostos meio escondidos que se desviam dos outros rostos. De forma crua. Ostensiva. De arrepiar. Olhares esguios que se perdem noutros olhares inquietos. Cumprimenta-se ao punho. Que tristeza! Muitos medos e mais insegurança. Dá ideia que este viver não tem conserto. Está tudo desconsertado.
Ponto dois - Já não há paciência para aturar estas gentes dos poderes. Informam e desinformam num instante. Como se nada fosse. Notícias quebradas, muitas encomendadas, para almas desafortunadas. A toda a hora e em todo o lugar, a verdade esconde-se por vergonha. Agora, informa-se assim, para depois se informar assado. E nós atónitos a ver o desfilar de contradições. Diante dos olhos. Nas barbas de cada um. Sem ripostar. Há quem engula. Também há quem desligue. Depois, vem sempre o espaço monopolista da política. Surgem os personagens, maquilhados e de semblantes sérios. Muito sérios. Com cerimonial, às vezes.
Ponto três - Segue-se depois o desfiar dos mensageiros. Este da extrema direita é perigoso. Não é conveniente para um regime democrático. Aquele é mais moderado, embora não traga nada de novo. As mensagens já vêm rompidas e corrompidas. Poucos acreditam. Cada vez menos. Ambos empestam o ambiente. A extrema esquerda, bem aceite nesta fantasia conjuntural, flor que não se pode cheirar, tal é odor a demagogia que exala, não é chamada para aqui. Tem salvo-conduto que a torna invulnerável. Agora já se diz social-democrata. Que fixe! Um avanço para o arco da governação. Talvez mais táctico. Para apanhar os incautos. Só pode ser. Naquele cantinho do cenário, enfiados num bunker, os enteados do bolchevique, cada vez mais velhos e carrancudos, só querem “o nosso povo e os trabalhadores”. Não fazem por menos. Estão gastos. Entraram em exaustão. Talvez mais em extinção.
Ponto quatro - Os outros, dizem eles, os que trouxeram a Troika, não têm emenda. Vendem a narrativa para ver se pega. Em memórias curtas até funciona. Os outros estão fora da história. Estão sempre fora da história. Batem e rebatem esta ideia até que a mentira ganhe contornos de verdade. No fim, até se acredita. Esses, os tais, são tudo e mais alguma coisa. Bons para os rotular. Neste despique tudo vale. Podem até não serem boas peças, mas ainda os tornam piores. E nestas incompreensões, o mundo continua a vociferar sem jeito e cheio de peito. Agora, agarra-se na crise climática. Bom tema. Boa causa. Vamos ver o que isto vai dar.
Ponto cinco - E eu perplexo limito-me a assistir às encenações. Impotente. O que se pode fazer, perante este gigantismo de arrogâncias que cilindra quem ouse obstar?
Contudo, tenho ainda réstias de energia e de vontade própria para perceber que isto não bate certo. Não está nada bem. Não anda bem, quando há condições para tudo ir bem. Ou ir, pelo menos, melhor. Mas, não. E não! E nesta corrente fugidia de ideias esguias que se desenlaçam, o orçamento é chumbado. Chumbado, porquê? Não há explicação. Não há entendimento.
E neste desnorte, o país corre freneticamente para o vazio. À procura do nada! Com pompa e propaganda. No entanto, pressagia-se à surdina: venha daí mais um salvador! Para salvar o quê?
Autor: Armindo Oliveira