“Democracia, a pior forma de governo, salvo todas as demais”. Winston Churchill, político e jornalista britânico - (1874-1965)
Ponto um - É ainda complicado falar ou escrever sobre coisas que se passam nesta democracia, apesar de estarmos a caminho de 50 anos da sua implantação. Há muita nebulosidade, muita tensão social disfarçada e um alheamento consciente na cidadania. A política está cada vez mais perturbada no que respeita à funcionalidade efectiva do poder e à abrangência social na resolução das necessidades e dos problemas das pessoas. Para ajudar ao cenário nebuloso, a comunicação social vergou-se e deixou-se amordaçar, por interesses de liquidez financeira. A opacidade existe e vive-se num ciclo de intensa fantasia.
Ponto dois - A democracia, na essência, é um regime fluido que se escapa nos meandros dos interesses partidários, dos boys claro, e nos jogos desenvolvidos pelo lobismo que se vai instalando e acomodando nos sofás do regime.
O que temos é uma democracia tremendamente endividada e deficitária, mas assustadoramente palradora no que se refere aos combates pelas desigualdades. Já ouço esta “treta” há décadas e nada se resolve, porque este “desejo” se situa mais no campo das demagogias do que no campo da realidade. Portanto, é um assunto só para ser encarado quando dá jeito, em tempos eleitorais, e para iludir o papalvo. Depois, temos um rosário de intenções, de voz erguida, em que uns “líderes” enchem a boca de promessas como aconteceu há dias em Portimão no congresso “coreano” dos socialistas. No final, tudo é adiado e repete-se a distribuição de uma mão cheia de nada. E assim, o país caminha suavemente para o fim da tabela no ranking do desenvolvimento.
Ponto dois - Winston Churchill proferiu o seu conceito de democracia com rara habilidade e realismo. Esta tentativa de definição enquadra-se numa perspectiva experiencial que, na sua funcionalidade, apresenta muita debilidade social, opacidade estratégica e deficiente eficácia. Churchill sabia bem o que dizia, pois aprendeu, muito cedo, a compreender as “doenças” e o oportunismo que pertencem ao regime. Não é preciso muita subtileza para perceber o conceito churchilliano e dar-lhe razão. Basta olhar para a actual contexto da democracia lusa e daí retirar as devidas lições e ilações. E elas estão diante dos nossos olhos: a apatia consciente do eleitorado que se consubstancia na abstenção inqualificável, ultrapassando os 50%; a imagem que o cidadão tem dos políticos: “é tudo farinha do mesmo saco”; a reputação internacional do país, como nos dizia Dijsselbloem: “Não se pode gastar em mulheres e álcool e depois pedir ajuda”. Estes “frames” deveriam chegar para ser motivo de reflexão por parte dos líderes políticos deste país.
Ponto três - Se olharmos para o quadro político português, depressa nos deparamos com várias incongruências, contradições e imperceptibilidades quer a nível ideológico, quer no domínio da razoabilidade e do entendimento. A crispação ideológica já deveria estar arrumada no arquivo morto, não fosse a democracia o regime da tolerância. O certo, é que, a partir de 2015 essa crispação, intencionalmente, aumentou de intensidade, dado que a democracia lusa inclinou-se fortemente para um lado, realidade bem adubada pelos esquerdistas que “dominam” o poder e por uma comunicação social que se amansou com uns “subsídios” de sobrevivência. Seria de bom senso perceber que o desequilíbrio existente assenta numa base de precariedade social e num sistema de “alianças políticas” contra natura que têm anestesiado a livre vontade de pensar e de agir. As forças partidárias da facção extremista criaram metodicamente bloqueios políticos e escavaram um vazio social que se reflecte na irracional necessidade de conduzir o país por um discurso de confrontação e de rotulagem ideológica.
Ponto quatro - Onde os esquerdistas – estalinistas, trotskistas e maoistas – dominam, a “democracia” adquire um figurino deveras peculiar: a “democracia” do partido único. Coisa estratosférica. Surreal. Perfeitamente ridícula. E perigosa. Altamente perigosa. Se há partido único não há democracia. É óbvio! Ora, se é óbvio, porque se permite que esses extremistas possam participar na democracia que eles não querem? Que eles combatem? Esta é uma das grandes ambiguidades da democracia. Há quem lhe chame tolerância. Tolerância que abriga os seus próprios inimigos. Abençoada democracia!
Autor: Armindo Oliveira