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Ponto por ponto

Tenho um enorme prazer em escrever sobre a minha cidade. A minha cidade, pela sua história, pelas suas gentes, pelo seu património edificado e não edificado, pela sua religiosidade, pelos grandes homens que a construíram e a reconstruíram, merece que me debruce com particular entusiasmo. Aqui estou, sem interesses do foro pessoal, só alimentado pela afeição e pelo dever cívico de participar em pequena escala, é certo, para que a minha cidade seja “grande”, segura e sempre empolgante. Braga, a nível nacional, é uma cidade empolgante. Uma cidade que respira futuro. Uma cidade de futuro assente num passado glorioso.

Ponto um - Há muito que fazer na minha cidade e mais nas suas freguesias. Tudo começa pelo respeito que esta urbe bimilenar nos merece e pela admiração que nos inspira. A minha cidade é bonita, airosa e muito agradável. É preciso senti-la. Agarrá-la. Conhecê-la bem. Conhecer e tratar bem das suas ruas, das suas praças, das suas avenidas. É preciso contactar com o seu edificado no centro histórico, erguer bem os olhos e o espírito para apreciar o jogo das suas fachadas em pedra. Sentir os seus cantos e os seus recantos. Vislumbrar as suas pérolas desenhadas na terra, como o Jardim de Santa Bárbara, ou trabalhadas no granito como o esplendoroso Bom Jesus e envolver-se na sua alma que divaga levemente no seu etéreo. A minha cidade tem pérolas únicas e tem alma. Tem arte e tem inspiração. Tem História. É preciso olhar pelas freguesias. É preciso.

Ponto dois - É este sentir, este conhecer e este vislumbre que deveriam estar nas primeiras preocupações dos líderes políticos citadinos. São estas pérolas e a arte polifacetada que irradiam luz e nostalgia pela cidade que deveriam predispor, entusiasmar e empurrar os verdadeiros homens da cidade para as defender e para as acarinhar com denodo.

Infelizmente, há “chagas” na cidade que parece não incomodarem o poder político municipal. Chagas gangrenadas que empestam o ar e o ambiente. A cidade e as freguesias. As reações dos responsáveis deixam muito a desejar, perante as descargas de efluentes no Rio Este. Este rio já foi demasiado massacrado no passado. Foi também enclausurado em muros de betão de forma rude e incompreensível. O Rio Este é um rio doente, cujo “tratamento” tem sido o desmazelo que lhe causam alterações na qualidade do seu caudal e do seu leito. Depois, outra chaga ainda mais notória e mais dorida. Um pouco fora da cidade: o Rio Torto (Ribeira de Panóias). Esta linha de água (?) exala um cheiro nauseabundo e tem uma cor gordurosa que dói a quem o vê passar. Uma vergonha para o séc. XXI, onde os problemas ambientais estão na agenda das maiores prioridades mundiais. Onde está a consciência ambiental dos políticos bracarenses?

Ponto três - O caso do Eco-Parque das Sete Fontes. Promessa repetida e sempre adiada. Lançada ao ar de eleição em eleição. Agora, tudo aponta para um acordo (?) feito com os proprietários, de modo a darem fim a este imbróglio de dezenas de anos. Contudo, parece que há “coisas” por esclarecer. Há muita gente que não está convencida e esclarecida. É assunto, pelo tamanho e pelos interesses que envolvem, que precisa de ficar clarinho. Sem margem para dúvidas. O acordo implica construções de volumetria considerável na “côdea” do parque. Será que vamos ter que engolir outro ou outros “prédios Coutinho” naquele espaço? Tudo aponta que sim. Sempre são dez andares. É muito andar! Construa-se o Parque, mas nunca a qualquer preço.

Ponto quatro - Outras “chagas” existem na cidade que serão objecto de análise em próximos trabalhos. Vou continuar a calcorrear pausadamente as ruas, praças e recantos da nossa bela cidade. Vou continuar a apreciar e aplaudir a reabilitação urbana que se vai fazendo devagar e devagarinho no centro da cidade. Vou continuar a subir os escadórios do Bom Jesus para me deslumbrar com a beleza paisagística, com o cantar das águas nas suas fontes, com a sua magnífica mata. Tudo naquele espaço sagrado é um autêntico paraíso construído pela mão do homem.


Autor: Armindo Oliveira
DM

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9 maio 2021