Espanto?! Vergonha?! Actos condenáveis?! Violência gratuita?! Acontecimentos banais?! Não sei! O que sei é que o futebol é um mundo à parte. Um mundo permissivo, cheio de casos e de polémicas. Repleto de dúvidas e de ilicitudes. Fala-se de subornos e de corrupção desbragada. De jogos encomendados e de jogadores que se vendem por um prato de lentilhas.
Árbitros que distorcem resultados e dirigentes desportivos que não poupam nos impropérios, nos gestos e na má educação os seus adversários (inimigos).
O futebol é um mundo de emoções incontroláveis e manipuladas. A propósito da opacidade do futebol, ainda tenho presente na memória as palavras de um conhecido ex-árbitro, proferidas num curso de treinadores em que participei.
Dizia ele muito senhor do seu nariz: “Se eu quiser, a equipa que pretendo prejudicar não passa do meio campo”. E continuou muito peremptório e com um sorriso nos lábios:” Nós fazemos resultados”. Palavras vividas, substanciais e sem qualquer novidade para quem está atento a este fenómeno tribal.
Ponto um – Em volta desta frente de fanatismo e de histeria que vai anestesiando o meu país, há muitas questões que podem colocar-se com pertinência. Questões que deduzirão, desportivamente, poucas respostas, como é óbvio. Não há respostas claras, porque a realidade é demasiada evidente e cruel.
Há medo que os telhados de vidro se partam. Todos sabemos o que se passa no futebol nacional e mesmo internacional, há muito tempo.
O “apito dourado” num tempo; os e-mails e os “toupeiras” noutro tempo. Agora o gangue dos mascarados. A corrupção de Blatt, presidente da FIFA, marcou a vergonha da estrutura inabalável e seríssima do futebol mundial. Em Portugal as autoridade assobiaram para o lado tempo demais. Era conveniente. Políticos em funções faziam e fazem fila para serem comentadores desportivos. E foi neste jogo simbiótico que político e futebol andaram de mãos dadas e em concubinato.
Ponto dois – A podridão vai secar o “espectáculo desportivo” e lançar na depressão muitos daqueles fanáticos que respiram um clubismo perigoso e se alimentam de fantasias e de violência. As claques, as vanguardas armadas dos clubes, são ninhos de marginalidade com culturas estilizadas de gangue. Não são combatidas, porque interessam a muita boa gente. O futebol dá estatuto, dá visibilidade, dá negócios e dá votos.
As respostas exigíveis, se vierem, chegarão arranjadas e evasivas. Camufladas e inconsequentes. É preciso reponder socialmente, psicologicamente, e desportivamente a este povo e a esta democracia anódina e de interesses de uns tantos poderosos. Sim, nesta área também existem os “donos disto tudo”.
E eles estão assanhados e muito bem apoiados por um grupo de altas individualidades do mundo da política que se deixaram e deixam arrastar para este lodaçal que contamina as relações institucionais. O país, o meu país merece mais respeito e dignidade daqueles que o deveriam servir com zelo e com competência a causa pública.
Ponto três – O que se passou na Academia de Alcochete é demasiado grave para se explicar de forma simples ou de uma forma redutora, centrando o problema somente dentro da esfera do futebol. O problema é bem mais complexo e indestrutível.
Um grupo, completamente manipulado, invade as instalações de um clube de futebol, destruindo tudo à sua passagem e agredindo a equipa técnica e atletas, comportando-se como gente impune e irresponsável.
Gente acéfala e animalesca, habituada a ter a cobertura e a complacência de um poder que não é capaz de pôr ordem no país e de uma massa adepta passiva, acomodada e muitas vezes violenta.
Ponto quatro – Um país, cheio de problemas e de carências nos mais diversos domínios, assiste, sem espanto, a este espectáculo deprimente. As televisões enrolam horas seguidas desta tristenovela, cansando os espectadores acríticos que esperam gostosamente pelas cenas dos próximos capítulos. A questão da vergonha e da desonra socialista já é passado.
As gravíssimas anormalidades verificadas na Saúde, na Educação e na Justiça são desdenhadas e esquecidas para prejuízo óbvio dos cidadãos. E isto, é que, é importante para o bem-estar do país.
Autor: Armindo Oliveira