Debrucemos-nos um pouco sobre a nossa cidade. Da bonita e arejada cidade de Braga. Da milenar cidade dos arcebispos. Da urbe construída e rasgada pela dimensão visionária de D. Diogo de Sousa e embelezada com os desenhos arrojados dos grandes mestres André Soares e Carlos Amarante.
Da cidade do barroco monumental que se focaliza no frontal da famosa Sé Catedral e se irradia esplendoroso na trabalhada fachada da igreja de São Vicente.
Marca presença vistosa também no palácio do Raio e na granítica igreja dos Congregados. Um pouco por todo o lado pedras cinzeladas, com gosto e com mestria, dando altos-relevos harmoniosos ao edificado. Fecha-se o círculo do barrocos do na emblemática capela de Santa Maria Madalena, situada no bucólico monte da Falperra.
Debrucemos-nos sobre esta cidade, jovem ainda, pujante e com grande potencial para se afirmar no contexto nacional nos mais diversos domínios: no domínio da economia (empresas tecnológicas), no domínio da cultura (Universidade do Minho) e no domínio da investigação (Laboratório Internacional de Nanotecnologia).
Ponto um - É preciso falar da cidade para a sentir, para a viver, para a apreciar e, se possível, para a divulgar como uma urbe marcada por uma história deslumbrante de altas personalidades como São Geraldo e D. Paio Mendes, por exemplo.
Para a cidade continuar a ser grande, é preciso que se promovam dinâmicas geradoras de bem-estar e de desenvolvimento. É preciso corroborar na sua afirmação positiva. É preciso revisitar o seu passado. É preciso, enfim, debater, aberta e constantemente, o seu presente e o seu futuro. Teremos gente para isso?
Ponto dois - Tem havido algum folclore em volta das mudanças operadas na presente gestão autárquica. Todos os dias acontecem coisas na cidade. Grandes coisas? Tenho dúvidas. Todos os dias há novidades, novidades velhas, que saltitam para as parangonas dos jornais locais, como se fossem grandes feitos e grandes realizações. Comecemos por uma abordagem simplificada das obras a executar, executadas ou em execução. São sempre obras de remodelação, contudo. Novidades "novas" não existem. Aguarda-se com expectativa por uma.
A remodelação do parque de exposições, agora "Fórum Braga", com um investimento de 9 milhões de euros, motivou um onda compreensível de orgulho e de dever cumprido, sendo o resultado óbvio de uma gestão ambiciosa (?). Foi, talvez, o maior feito construtivo dos dois mandatos de Ricardo Rio e que poderá guindar a cidade para patamares de crescimento económico e de visualização externa nunca vistos por estas paragens. É assim que pensam e apostam os responsáveis pelo município. A cidade e a região minhota tem agora à sua inteira disposição um equipamento moderno, polivalente, abrangente e inovador para proporcionar uma oferta de qualidade e diversificada a todos aqueles empreendedores que pretendam entrar nas redes dos negócios. Será mesmo assim?
Ponto três - A seguir virá a remodelação do Mercado Municipal. Outra aposta da edilidade para ir ao encontro das necessidades do comércio local e numa altura muito complicada, na medida em que as grandes superfícies asfixiaram e asfixiam, sem pena nem dó, todo o tipo de comércio que se desenvolve dentro do casco urbano.
Serão cerca de 5 milhões de euros em investimento para remodelar aquele espaço que durante cinco décadas serviu e animou aquela zona da cidade, dando também possibilidades aos pequenos produtores de exporem e venderam "o fruto do seu trabalho".
Vamos lá a ver se será uma pedrada no charco nesta face do comércio operada nos super's e nos hiper's que acomodou com resignação todo o tipo de clientela.
Ponto quatro - Ainda o problema ou a polémica do estacionamento na cidade à superfície. Coisas de um passado mal engendrado, mal arrumado e mal resolvido. Uma das heranças nefastas do poder absoluto que esteve em vigor na CMBraga.
O jogo de ping-pong continua entre a empresa concessionária e a Câmara Municipal. Ora reversão, ora providência cautelar. Isto sem parar.
Era conveniente acabar com esta situação ambígua e tomar uma posição mais realista e de acordo, primeiro, com os interesses da cidade e dos munícipes. E só depois outros interesses.
O caminho certo passa por um diálogo responsável e com argumentos credíveis. Será possível?
Autor: Armindo Oliveira