Lateralmente ao decreto que estabeleceu o Estado de Emergência para confinar as pessoas nos seus lares, o Presidente da República desafiou, verbal e publicamente, o governo para falar sempre, mas sempre a verdade, a fim de se evitarem rumores, a posteriori, acerca do número de infectados e de vítimas do Covid-19. Nem valia a pena fazer qualquer recomendação a este respeito, mas neste país é preciso, porque a democracia não tem deixado um rasto de verdade e de transparência na sua funcionalidade nestes 46 anos de existência. Aqui se encaixa na perfeição a coerência da “palavra dada, palavra honrada”, uma das “graçolas” do dr. Costa.
Ponto um - É notório, contudo, para todos aqueles que acompanham as notícias televisivas, alguns absorvem-nas até à exaustão, os números de infectados e de mortos provocados pelo vírus chinês fazem parte e se alinham também no jogo político que se queria que estivesse ausente deste enorme problema social e de saúde pública. O que for dito a este propósito tem que ser clarificador e cujas interpretações não podem suscitar quaisquer dúvidas. As sombras são sempre registos negativos para se lamentar e rejeitar. Sabemos que a democracia velha tem destas coisas e destas anormalidades. “Brinca-se”, muitas vezes, com coisas sérias e decide-se por meras questões ideológicas e de calendarização eleitoral. Muitas vezes, a propaganda ofusca completamente a realidade e os verdadeiros interesses das pessoas e do país estão noutra órbita. A política é mesmo assim: uma coisa complicada e intragável que deixa o cidadão aturdido e perplexo.
Ponto dois - Verdade e transparência, dois dos alicerces fundamentais para a saúde e solidez das instituições democráticas, estão corroídos e capturados pelos interesses e pelas conveniências grupais e pelos tribalismos políticos. A este propósito da verdade e da transparência, ainda se pode recordar as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) da medida demagógica das 35 horas de trabalho na função pública: Dizia no tempo, em 2016, MRS “Porque se dá o benefício da dúvida quanto ao efeito do aumento da despesa do novo regime legal, não é pedida a fiscalização preventiva (...) será, entretanto, solicitado fiscalização sucessiva, se for evidente, que aquele acréscimo é uma realidade”. Ora, todos sabemos que as 35 horas causou um aumento de despesa brutal e MRS engoliu bem o que disse. Eu sei e todos sabemos que os políticos jogam muito com a amnésia das pessoas e com o laxismo da oposição. Daí, as responsabilidades (culpas) morrerem sempre solteiras. Em que ficamos, Presidente?!
Ponto três - Anda muita confusão no mundo político acerca da desejada normalidade na economia. É fácil de se perceber que o caminho para essa normalização vai ser “duro e longo”. Neste cenário anómalo, a oposição inacreditavelmente juntou-se ao unanimismo nacional, quando deveria fazer o seu papel e não se deixar envolver pelas questiúnculas do “aproveitamento político. Este unanimismo faz recordar os tempos da União Nacional tão ferozmente combatida pelos carunchosos senadores republicanos e laicos da “democracia velha”.
Noutra vertente, ouvimos esta “flor” do ministro da Economia, Siza Vieira: “as medidas do governo para as respostas à crise não passam pela diminuição da despesa pública, nem do aumento dos impostos, embora reconheço uma subida acentuada do desemprego”. Como é isso?! Eu não percebo como se pode resolver um problema de forte recessão, com um endividamento colossal, de cofres depenados, com uma indústria descapitalizada e pouco inovadora e querer continuar a manter o mesmo caminho do folclore e das propagandas?! Quem percebe?! É assim que fazemos nas nossas famílias, quando temos compromissos para honrar?
Ponto quatro - O governo do dr. Costa perdeu ingloriamente uma óptima oportunidade de ter feito a convergência positiva com os países mais desenvolvidos da União Europeia. Preferiu andar na treta do “chapa ganha, chapa distribuída”. E agora, nesta situação de penúria, apelamos de mãos estendidas e de joelhos à “solidariedade” dos países ricos para nos salvar da ruína económica e financeira e da ruptura social. Para continuar o ciclo de “brincadeiras”, os países do Sul querem empréstimos perpétuos e se possível com juros zero. Ou seja, querem dinheiro à borla, quando todos sabemos que nestas histórias de dinheiro não há almoços grátis.
Somos assim e governados à maneira socialista é uma maravilha! Não aprendemos nada com os erros. Não queremos aprender. É preferível recorrer às “solidariedades” dos nossos parceiros.
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto
DM
18 maio 2020